segunda-feira, 23 dezembro, 2024
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Reality Z | Crítica da 1ª Temporada

Reality Z chegou na Netflix envelopada em zumbis, reality shows, e Sabrina Sato, mas entrega uma série muito maior do que isso tudo. Ao colocar esse combo de fatores juntos como chamariz, a produção nacional mascarou sua verdadeira intenção, falar sobre questões de sobrevivência, relações sociais, e claro o poder da natureza humana em um ambiente apocalíptico.

Reality Z | Crítica da 1ª temporada
Foto: Netflix

O momento que Reality Z estreou foi bastante interessante, afinal, o Brasil tinha acabado de sair da edição 20 do maior reality show já visto no país, e claro, em ritmo de quarentena por conta do coronavírus. Reality Z então parece ter saído de uma thread do twitter onde a casa fictícia do Olimpo, o programa dentro do programa, é o único lugar a salvo quando a população brasileira começa a ser atacada por zumbis que invadem o Rio de Janeiro.  

Assim, Reality Z pega tudo que é demais, com um jeitão bem trash, amplifica, e começa sua história. Ao mesmo tempo que a série parece tentar fazer uma sátira para os programas do gênero, e para o fenômeno zumbi que ganhou popularidade há alguns anos, o discurso mais sério já começa a aparecer no meio de tantas peculiaridades que os primeiros episódios apresentam.

A série tem episódios curtinhos e se beneficia bastante disso, afinal, o ritmo dinâmico e a trama alucinada fazem a trama se mover com uma velocidade impressionante assim como os zumbis correndo para atacar os seres humanos. Reality Z é ligada no 220V, a história tem um ritmo frenético, de piscou, perdeu, onde já avisamos para o espectador não se apegar à nenhum personagem, pois nunca se sabe o que o futuro os reserva.

E isso acaba por ser um dos maiores trunfos da série, e também, um de seus defeitos. Reality Z parece entregar na sua primeira temporada, duas temporadas, dentro de uma só, onde a divisão fica bem clara lá no meio do primeiro ano. Como falamos o vai e vem de personagens é gritante, e poucos se destacam efetivamente, ou sobrevivem. Num primeiro momento, a série foca nos personagens estereotipados de reality show visto nas mais diversas versões que já passaram na TV brasileira, onde aqui Reality Z abraça muito mais seu lado cômico e satírico, e entrega passagens surrealmente bizarras de se acompanhar.

Reality Z | Crítica da 1ª temporada
Foto: Netflix

Reality Z é uma série que o espectador precisa entender o que ela se propõe, e abraçar a ideia para decidir se vai, ou não, continuar com ela. Se uma trama mais adoidada, cheia de zumbis, e Sabrina Sato – ótima no papel de uma apresentadora louca pela fama numa metalinguagem sobre sua própria carreira – correndo atrás das pessoas semimorta não for a sua praia, talvez Reality Z não seja para você. E para o que se propõe, Reality Z entrega uma boa série e bem divertida de se maratonar.

Os destaques ficam com Nina (Ana Hartmann, muito boa) a típica mocinha/final girl dos filmes de terror, sabe? Aquela que é a boazinha, cansa de ser passada para trás, e no advento do apocalipse começa a assumir um papel de liderança. Hartmann consegue fazer com que sua Nina entre na galeria de final girl memoráveis, mesmo que seu futuro não seja tão esperançoso que de suas outras colegas de filmes do gênero.

Outros atores um pouco mais conhecidos do público como João Pedro Zappa como participante TK – um papel completamente diferente de seu Santos Dumont da HBO – e o ótimo Guilherme Weber como o perturbado Brandão, o produtor do reality show, dão o tom para os primeiros episódios de uma forma que Reality Z consegue nos cativar com suas excentricidades e momentos completamente pirados.

E ao mesmo tempo, a série já trabalha seus outros arcos em paralelo, como aos poucos, colocasse uma sementinha para o que vem por aí nos próximos episódios. Enquanto a parte 1 da temporada foca nos participantes do reality que continuam presos na casa mesmo depois que o programa acabou, Reality Z já começa a se movimentar para incluir na trama central a questão de como o grupo irá lidar com a chegada de novas pessoas de fora, onde eles precisam ainda lidar com a presença maciça de zumbis que estão ali dentro pronto para os matar e transformar em seres mortos-vivos. 

Os destaques dessa trama b ficam para os personagens do deputado Levi (Emílio de Mello), sua assessora Cristina (Juliana Ianina de 1 Contra Todos) e ainda o policial Robson (Pierre Baitelli, muito bem). As tramas se conectam quando o jovem Léo (Ravel Andrade) e sua mãe Ana (Carla Ribas) chegam com um comboio juntamente com Tereza (Luellem de Castro) na mansão do reality show.

Assim, ao juntar as duas tramas, Reality Z começar a discutir assuntos mais sérios, e a temporada perde um pouco seu lado mais surtado para começar a fazer episódios que discutem o papel do indivíduo, e do coletivo, na sociedade, mesmo que essa sociedade tenha desaparecido com a chegada dos zumbis, e o que restou do mundo está em caos. Os sobreviventes precisam lidar com uma ameaça muito maior que os vorazes zumbis do lado de fora, os humanos do lado de dentro.

Reality Z | Crítica da 1ª temporada
Foto: Netflix

Reality Z entrega uma série que se arrisca, onde começa com um tom completamente maluco para vender uma série que discute de uma forma bastante interessante questões sobre como o ser humano pode ser comportar em situações de pressões extremas e com pouco tempo para se tomar.  A série se torna um grande jogo de gato e rato, onde não só os zumbis caçam suas presas, mas sim os próprios humanos que são figuras importantes na sobrevivência um de outros.

Na segunda metade de sua temporada, Reality Z quase entrega um experimento social onde lados opostos da essência humana se apresentam na medida que novas pessoas tentam entrar na casa e não estão de brincadeiras. Claro, com isso a série parece que anda em círculos em sua proposta, mas a cada entrada de novos personagens, novos, e mais pesados conflitos se apresentam até o final de temporada que termina de uma forma completamente compreensível para o que a série tem para se falar.

No final, Reality Z faz uma produção interessante de se acompanhar que se apoia no trash e no surreal para contar, com muitas reviravoltas, uma história de sobrevivência onde aqui é preciso ser o mais inteligente e não o mais forte para se sobreviver. Ou não. Para saber quem vive e quem morre só dar play nos episódios.

Reality Z disponível na Netflix.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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