Ela está aqui. E ela é tão boa quanto imaginamos. Boa parte feito, e terminado no meio da pandemia, Raya e O Último Dragão (Raya And The Last Dragon, 2021) teve uma jornada curiosa até seu lançamento nos cinemas e no Disney+ com Premier Access. Suas primeiras informações foram liberadas oficialmente em 2019, durante o evento da Disney na chamada D23 Expo e que realmente pegaram boa parte das pessoas de surpresa, afinal, pouco se sabia do projeto em si, depois tivemos troca na equipe de dubladores originais, aí veio a pandemia para atrapalhar o calendário da produção, mas no final, obrigado, deu tudo certo.
E agora, quase dois anos depois do evento que reuniu o pessoal da Disney no palco da convenção, temos a estreia dessa nova animação do estúdios Disney. E a guerreira Raya além de ser a nova aquisição no catálogo de personagens da Disney, também honra o legado de suas antecessoras e se mostra uma peça importante para o futuro da gigante do entretenimento, afinal, antes das aquisições do ex-CEO Robert Iger, como a Marvel Studios e a LucasFilm, temos que lembrar que Disney é, e sempre foi, a casa da animação. E além disso, Raya e O Último Dragão também serve para mostrar como Hollywood tem se moldado nos últimos tempos na busca por uma maior diversidade em seus projetos e de como contar uma história que fale com uma quantidade maior de pessoas e que abrace as diferentes culturas ao redor do mundo.
E nossa, como tudo que envolve Raya e O Último Dragão serviu como uma luva para isso que falamos acima viu?. A personagem tem as habilidades de combate da guerreira Mulan, e simpatia e agradabilidade de Moana, e isso tudo se une para fazer de Raya e O Último Dragão um dos grandes acertos da Disney, e uma das coisas mais bonitas que o estúdio já fez, em muito tempo.
Raya e o Último Dragão tem humor, tem uma história empolgante, e toda vez que boa parte dos personagens, e principalmente a personagem da comediante Awkwafina abria a boca, eu sorria, e claro, dava boas gargalhadas. Se você acompanhou a nossa cobertura do filme por aqui deve estar ligado, sabe aquela música que toca nos trailers dos filmes? “I’m that good..” da cantora Tamara Bubble? Pois então, é o que define o filme para mim… Raya e O Último Dragão é isso de bom.
E isso se dá por diversos motivos, a começar pela forma com que a dupla de roteiristas Qui Nguyen e Adele Lim escreveram essa história. Além da Disney ter escolhido dois profissionais em Hollywood com uma bagagem cultural para conseguir contar essa história com local de fala (representatividade importa!), em Raya e O Último Dragão o texto da dupla se mostra um filme muito respeitoso com diversos costumes, com as ideias e conceitos da região asiática mesmo que no longa a história se passa no fictício reino de Kumandra.
Lim foi a responsável pelo mega hit da Warner Bros., o longa Podres de Ricos (2018), e aqui com Nguyen, que contribuiu com um vasto background sobre armas e lutas asiáticas, conseguem se unir com uma quantidade de pessoas (a história de Raya, além da dupla, teve contribuição de mais de 6 pessoas) para que em várias mãos a trama de Raya e O Último Dragão saísse da melhor forma possível, o que no final, acaba por refletir no trabalho final que a animação entrega.
Além de uma história realmente boa (mesmo que simples, mais abaixo) em termos de narrativa, um dos outros destaques do longa fica com o trabalho visual espectacular criado pelo departamento de animação do estúdio que realmente conseguiram superar (lembrando que eles trabalharam de casa!) para criar todos os reinos de Kumandra e todos os personagens que compõem esse novo e mágico lugar. Raya e O Último Dragão tem personagens tão reais, vívidos, e que são tão bem desenhados digitalmente que fica difícil não ser transportado para esse novo reino que a Disney nos apresenta da forma mais bonita possível.
Ao assistir o filme eu ficava com os olhos indo em cada canto da tela babando por tudo que a equipe de produção criou digitalmente para o filme, seja os traços dos figurinos dos personagens, do cabelo de Raya, dos pêlos do dragão Sisu ou ainda nos detalhes no céu de Kumandra, e na texturas tanto das águas do rio que corta a região ou de uma floresta que vemos os personagens em um determinado momento da história.
Eu não via um trabalho de cuidado com água tão bem feito desde Moana – Um Mar de Aventuras (2016). E a equipe de produção acertou em cheio, afinal água aqui é uma parte importantíssima no filme vocês vão ver.
Aqui claramente a estética visual dos outros filmes do co-diretor Carlos López Estrada, como Blindspoting (2018) e Summertime (2021) é realmente sentida, e apenas agregam para a história que Estrada e seu parceiro no projeto, o veterano Don Hall – dos sucessos da Disney como o próprio Moana (trabalhou como roteirista) e A Princesa E O Sapo (2009), ele trabalhou no departamento de animação – entregam na direção dessa nova animação que eles também dividem com Paul Briggs e John Ripa.
Assim, Raya e O Último Dragão além de ser lindo visualmente, faz um animação com uma mensagem poderosa (como uma boa animação do estúdio!) sobre união e apresenta isso de uma forma completamente interessante e que deve ressoar muito mais para os adultos do que para as crianças. Os mais jovens deverão se divertir como os personagens secundários, como o extremamente fofo TukTuk, o companheiro redondo de Raya, o garoto garçom malandro Boun (voz de Izaac Wang no original), o gigante com sentimentos Ton (voz de Benedict Wong no original), ou ainda, a bebê golpista Little Noi (voz de Thalia Tran no original) e sua trupe de macacos bandidos, e todas as peripécias que esse grupo faz quando se unem na jornada de Raya.
Mas é com os adultos que Raya e O Último Dragão deve conversar mais, afinal, a história toca em questões importantíssimas, como por exemplo sobre como vencermos nossas diferenças e abraçarmos as diversas formas de pensar para sairmos melhor e nos fortalecemos como uma sociedade.
Raya e O Último Dragão entrega uma mensagem extremamente forte, numa narrativa muito interessante, principalmente nos dias de hoje. Afinal, ainda vivemos em uma pandemia, e vemos que não precisamos estar sozinhos no mundo e que confiança com os outros é o principal passo para evoluirmos nossas relações.
Mas falando um pouco do filme em si, Raya e O Último Dragão mostra o reino de Kumanda dividido por conta das opiniões e ideias diferentes de cada uma das 5 partes que compõem o que era esse único reino. Agora cada um desses povos vivem separados e de forma independente, cada um com seus costumes e tradições diferentes, depois que há milhares de anos os dragões batalharam para salvar o mundo de uma grande ameaça sombria que ameaçava acabar com todos os seres vivos. E depois de uma tentativa de restaurar a paz falha, cabe a guerreira Raya (voz de Kelly Marie Tran no original, incrível no papel), que vive com seu pai, o Chefe Ben (voz de Daniel Dae Kim no original) do reino do Coração, partir em busca do lendário último Dragão para tentar fazer as coisas voltarem ao normal na região.
Mas é claro que ela não estará sozinha nessa jornada, a guerreira Namaari (voz de Gemma Chan no original) e sua ardilosa mãe Virana (voz de Sandra Oh no original) a líder do reino Presa, também têm seus próprios planos que vão atrapalhar a nossa protagonista. Inclusive uma das partes mais impressionantes de Raya e O Último Dragão fica nas lutas entre Raya e Namari que realmente dão um ar mais adulto para o filme e são tão reais, tão bem desenhadas, que faz do desenho um filme de ação muito impressionante com diversas modalidades de lutas asiáticas dos mais diversos tipos. Mas realmente o foco da animação e da história fica sobre os temas de individualidade vs coletivo que acaba por ser uma questão central para Raya e O Último Dragão e para o desenvolvimento da trama propriamente dita.
E assim, a trama da animação talvez por ter sido concebida por diferentes mãos acaba por ter um pouco de tudo, e o que pode ser um ponto negativo para algumas pessoas, mas para mim é ai que que fica a graça do filme. Raya e O Último Dragão não tem uma narrativa complexa, é até que simples em sua proposta, mesmo que flerte com diversos tipos de gêneros. É parte filme de assalto, afinal, nossa guerreira está na busca de gemas mágicas separadas pelos diversos reinos de Kumandra, é parte coming of age, afinal, vemos Raya na busca sair da sua concha, amadurecer, e mudar sua visão de mundo com a ajuda de seus novos amigos, parte filme de comédia de dupla, afinal, o dragão Sisu (voz da hilária Awkwafina no original) tem uma personalidade completamente oposta da de Raya, e entrega um dos melhores personagens secundários da Disney desde de Olaf de Frozen (2013), e que lembra muito o Gênio de Aladdin (1992) com Timão e Pumba de O Rei Leão (1994).
O Sisu é uma mistura de tudo que já deu muito certo na Disney e realmente Awkwafina consegue deixar o personagem realmente se destacar e seu dragão rouba todas as cenas que aparece. A atriz coloca no personagem um carisma incrível que transborda em tela e faz de Sisu uma metralhadora de falas hilárias, seja na sua forma humana, quanto na sua forma em dragão.
E isso tudo cria um tom característico e quase único para filme, afinal Raya e O Último Dragão ao mesmo tempo que segue a cartilha mágica da Disney, consegue ser uma coisa completamente diferente de tudo o que o estúdio já fez, e mesmo assim, entrega uma história que consegue soar fresco em sua proposta.
No final, Raya e O Último Dragão faz um excelente filme que lida com temas adultos ao mesmo tempo que entrega uma animação divertidíssima para crianças um pouco mais velhas. Com novos personagens de apoio carismáticos (eu quero um TukTuk!) e uma nova heroína para novos tempos, sem dúvidas, Raya e O Último Dragão será uma nova ótima etapa para a história da Disney, numa Era Pós-Frozen, e que adentra na Era do streaming de uma forma agressivamente empolgante. Mal posso esperar para as possibilidades que o filme poderá ter dentro da plataforma.
Raya e O Último Dragão chega em 05 de março de 2021 nos cinemas nacionais e no Disney+ com Premier Access por uma taxa extra.
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