Quando Ryan Murphy e a FX Networks anunciaram a primeira temporada de FEUD com o retorno de Jessica Lange e com a presença de Susan Sarandon a internet foi a baixo. Primeiro pelo porte das atrizes e depois pela história, que a princípio não tinha muito para se contar, FEUD como série antológica iria contar famosas rixas entre pessoas ao longo da tempo e essa primeira temporada iria focar em duas das mais famosas atrizes de Hollywood: Bette Davis e Joan Crawford. A medida que o restante do elenco foi escalado e a produção iniciou ficou mais claro a intenção dos envolvidos em realizar essa série.
Assim FEUD: Bette and Joan, começa em 1962 durante o inicio da produção do filme O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?) com as atrizes Crawford (Lange) e Davis (Sarandon) que fizeram muito sucesso durante a década de 30, mas agora anos depois elas não estão tendo mais muitos papéis importantes no cinema, sendo preferidas por atrizes mais jovens. A produção visual da série faz um excelente trabalho ao recriar o ambiente dos anos 60, com as roupas, os carros e os móveis mostrando o pomposo e glamouroso estilo de vida em Hollywood.
Cercada de uma grande crítica a própria Hollywood, o primeiro episódio consegue mostrar bem o tratamento dos estúdios, diretores e executivos a suas atrizes e assim bem as mulheres no período. A cena entre produtor Jack Warner (Stanley Tucci) e o diretor Robert Aldrich (Alfred Molina) é cheio de nuances sobre as personagens principais. Quando uma delas o resolveu processar o dono do estúdio por causa de dinheiro e de um contrato, ela é chamada de vaca, mas foi só oferecer mais dinheiro que a Warner já viu seus olhos brilharem mostrando como funcionava e ainda funciona a industria do cinema.
Claro que Crawford tinha o costume de se apaixonar e usar seu charme para conseguir as coisas, o que fica claro na cena dela com Aldrich, enquanto eles estão negociando os termos do contrato. Ao exigir dinheiro a mais que Davis para despesas, Crawford usa seu charme em vão com o diretor. Ao perceber que suas investidas não deram certo ela dobra seu valor. É o famoso círculo em que as mulheres acabam usando seu charme, pois no final é uma das poucas armas que elas tinham. Assim Crawford tenta mudar de jogada, usando uma abordagem um pouco mais estratégica.
Ao trabalhar com o recurso de flashback, a série usa a produção de um documentário para explorar a trama no passado entre a rixa entre Bette e Joan. Assim, acompanhamos os depoimentos de outras duas atrizes famosas em Hollywood para contarem a nossa história. Olivia de Havilland, que foi vencedora duas vezes do Oscar, no papel uma afetada Catherine Zeta-Jones e a outra indicada ao Oscar, Joan Blondell (papel de Kathy Bates).
Seguindo por esse caminho conhecemos todos os eventos que levaram Crawford a retornar ao cinema por sua conta própria pois segundo ela “os papéis não chegam mais para a gente e temos que ir atrás nós mesmas” e assim convencer Davis a participar da produção. Além de convencer a colega elas tem batalhar contra a imprensa que ficou atiçada com a presença das duas na mesma produção. A jornalista de celebridades Hedda Hopper (Judy Davis) fica urubuzando as duas para tentar conseguir algum podre entre as atrizes.
Em FEUD: Bette and Joan, como falado, vamos descobrir que rixas não são formadas pelo ódio, mas sim pela dor e pelo sofrimento entre os envolvidos. A medida que as pessoas só conseguem demostrar esse tipo de sentimento e não amor ou compaixão mostra o quanto o ser humano é complexo. Aliado com as fortes performances de Lange e Sarandon o primeiro episódio mostra o poder de suas atuações e como elas conseguem transportar para a tela as aflições e angustias de duas atrizes que ainda tinham tudo para serem um sucesso.
A série é uma bela homenagem a outros tempos do cinema e merece ser vista, apreciada e claro premiada. Afinal estamos falando de duas das melhores atuações do ano até agora. Indicações para FEUD: Bette and Joan virão com proporções bíblicas.
https://youtu.be/fktRmhqP2gc
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