segunda-feira, 23 dezembro, 2024
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O Poço | Crítica

O Poço (The Plataform, 2019) chega na Netflix num momento bastante interessante em que o mundo vive em clima de isolamento e pandemia global. Obviamente. Com uma trama ao mesmo tempo intensa e chocante em várias partes, o longa espanhol realmente faz o espectador pensar como se portaria numa sociedade igual ao do filme, e nos faz refletir sobre nossa relação individual e com o coletivo. 

Pesado e oras brutal, O Poço navega sua trama como se fosse um grande jogo de vídeo-game da vida real onde a cada momento vemos o protagonista (que serve como o olhar do público para o local) adentrar nesse experimento social chamado de O Poço.

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O Poço – Crítica | Foto: Netflix

Ao acordar numa cela Goreng (Ivan Massagué) é recebido pelo colega Trimagassi (Zorion Eguileor) que serve como um guia para o local e suas regras. É como se os participantes estivessem em um quarto branco do BBB, sabe?Apenas com uma cama, uma pia, e no centro um grande buraco que se perde de vista, tanto se olharmos para cima quando para baixo. 

O Poço consegue capturar a atenção na medida que apresenta as condições do jogo, ou do chamado experimento social para o protagonista, e consequentemente para nós, o público que se choca com a brutalidade que tudo é mostrado. Os “moradores” do local são divididos em níveis, e ficam por lá durante 1 mês até trocarem de andar forçadamente. Mas quantos andares temos? Como são escolhidos quem fica em qual andar? A comida vem para eles uma vez por dia através de uma plataforma em movimento, colocada no pavilhão 0, que desce durante o dia todo. 

E fica claro, que os andares de cima comem mais por estarem em um local privilegiado. E de uma forma rápida, o roteiro do filme, escrito pela dupla Pedro Rivero e David Desola, consegue fazer o público ser apresentado para todas as complexas artimanhas que o local oferece, as perguntas que temos sobre o lugar, e como isso afeta as relações entre seus moradores.

Como Jogos Mortais (desde de 2019) e O Experimento Belko (2017) de James Gun já haviam feito, em O Poço, temos a representação clara de vida em sociedade, mas de uma forma muito mais chocante e nítida ao expôr as diferenças sociais, e os dilemas de se viver em grupo com poucos recursos disponíveis. Ao perceber as dificuldade de se viver nas camadas mais baixas do prédio, Goreng vive momentos difíceis, que testam sua sanidade e desperta seus extintos de sobrevivência. A sanidade daqueles que vivem por lá é deixada de lado ao sofrerem com a fome, o isolamento, e claro de ficarem temerosos com o futuro, a cada mudança de andar.

Ao navegar pelo lugar, passando de nível em nível vemos e conhecemos mais da estrutura do lugar, somos apresentados para novos moradores, e como as coisas funcionam diferentemente para cada um por lá, cada um com suas intenções e motivações, seja a mãe procurando pelo filho desaparecido, por uma senhora e o seu cachorro, ou ainda um homem com ambições de chegar no primeiro, e cobiçado, nível.

O Poço faz paralelos interessantes sobre a vida em sociedade, nossas relações e como nós lidamos um com o outro, e entra tudo isso com personagens que são os arquétipos de figuras na nossa sociedade moderna. A cada mudança de andar, o filme fica ainda mais pesado e muda toda nossa concepção entre o que faríamos para sobreviver ou não no lugar assim como os personagens, onde alguns realmente não tem nada a perder.

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O Poço – Crítica | Foto: Netflix

Para os personagens, O Poço é a definição máxima do matar ou morrer, mas para Goreng, o experimento acaba por ser uma chance de tentar de mudar um sistema de dentro e mostrar que ainda há esperanças para a sociedade. 

O Poço ainda pode trazer alegorias interessantes sobre como a sociedade mudou em diversos momentos por conta da escolha de uma só pessoa, seja as mais bíblicas como o Noé e a Arca, Martin Luther King, ou até mesmo o próprio Jesus Cristo. Com um final aberto para inúmeras interpretações como a figura do renascimento, e de uma promessa de melhores tempos, O Poço acerta em capturar a atenção do espectador, e apresentar uma história que une medo com uma certa curiosidade mórbida de saber o que irá acontecer como todos aqueles moradores do local.

E você como se sairia vivendo no poço? 

Nota:

O Poço disponível na Netflix.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
Sempre posso ser visto lá no Twitter, onde falo sobre o que acontece na TV aberta, nas séries, no cinema, e claro outras besteiras.  Segue lá: twitter.com/mpmorales

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