A ideia de investir novamente nos personagens do Esquadrão Suicida parecia mesmo uma missão suicida daquelas que apenas a chefona Amanda Waller obrigaria qualquer um a fazer. Ainda mais se levarmos em consideração que na época que o projeto estava em desenvolvimento o diretor James Gunn estava em maus lençóis. Mas o filme saiu do papel, entrou para a grade de lançamentos da Warner Bros. e alguns anos depois se mostra a redenção do estúdio com os personagens, do próprio diretor com Hollywood e com si mesmo, e claro, a consagração da franquia como uma das mais ousadas em termos de contar histórias baseadas nos personagens dos quadrinhos da DC.
Escrito e dirigido por Gunn, O Esquadrão Suicida surpreende e entrega um combo explosivo de caos, Arlequina (Margot Robbie no auge com a personagem) e faz um dos filmes de super-heróis mais insanos dos últimos tempos. E com um trilha sonora matadora. Piada intencional querido leitor =).
Visualmente de matar (desculpe!) e com momentos uau de deixar o cabelo em pé, O Esquadrão Suicida aposta em um humor extremamente afiado e non-sense e um elenco entrosado, e gigante, para contar essa história que realmente parece que saiu de uma das páginas dos quadrinhos. Pelas mãos de Gunn, é como se O Esquadrão Suicida fosse um filme do Deadpool, o personagem dos quadrinhos mais boca suja que tínhamos até então, só que com uma pitada de Quentin Tarantino. O que temos aqui, não é um reboot do filme de 2016, mas também não é uma sequência, e sim uma nova visão para os personagens e a introdução de uma tonelada de outros.
O roteiro de Gunn é marcado por uma imprevisibilidade enorme, assim como o grande vilão que o Esquadrão Suicida precisa enfrentar, onde logo de cara no filme, o diretor te garante que qualquer coisa pode acontecer, com qualquer um, inclusive por alguns longos minutos você fica na cabeça: o personagem X morreu logo no começo do filme?. O caminho mais maluco possível é escolhido por ele para contar como Amanda Waller (Viola Davis, mais carismática do que nunca) tira um prisioneiro (Michael Rooker) da penitenciária de segurança máxima para formar novamente a Força Tarefa X (o nome chique de Esquadrão Suicida!) e recrutar novamente um bando de vilões do Universo da DC para partirem para uma missão ao mesmo tempo perigosa e mortal. Mas ei, eles estão morrendo de vontade de salvar o mundo certo? De certa forma sim.
Uma das coisas mais interessantes que O Esquadrão Suicida mantém igual do primeiro filme, além do retorno de Rick Flag (Joel Kinnaman), Capitão Bumerangue (Jay Courtney) e a única Arlequina (Robbie) claro, é que aqui o vilão a ser de derrotado em troca de uma redução de sentença não é exatamente o foco do filme, e sim a jornada que esses personagens enfrentam até chegar nele, onde podemos ver mais desses personagens, e eles tendo que lidar uns com os outros (e se manterem vivos no meio do caminho) para chegar no foco da missão.
E para isso, Gunn aqui reúne os mais diversos, malucos e excêntricos personagens dos quadrinhos da DC. Falo de o Pacificador de John Cena (super carismático, mesmo com um figurino ridículo), com uma obsessão doentia em duas coisas: 1) manter a paz a todo custo mesmo que isso signifique matar um batalhão inteiro e 2) dos membros genitais das pessoas (Cena está em ótima forma no filme!); o Homem das Bolinhas (David Dastmalchian, ótimo e um dos destaques do longa), um homem depressivo com um complexo de Édipo gigante e que arremessa bolinhas coloridas do seu corpo; a millennial Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior, uma das melhores coisas do longa todo), que o nome mesmo já diz (aliás se você tem medo/fobia de ratos, o longa definitivamente não é para você); o hilário e rei de roubar todas as cenas, Tubarão Rei (nhom nhom e voz de Sylvester Stallone); o excêntrico Pensador (Peter Capaldi); o articulado T.D.K. (Nathan Fillion); a rebelde Sol Soria (Alice Braga representando o Brasil); a doninha com os olhos malucos (Sean Gunn em captura de movimentos); e claro, um dos grandes destaques do filme o Bloodsport (Idris Elba no papel de super-herói, cof cof vilão que estávamos morrendo para ver o ator nele).
Gunn coloca todos eles juntos, onde em um primeiro momento você acha que não teremos espaço para todo mundo em tela, mas o diretor faz com que todo mundo tenha seu momento de brilhar, explodir alguma coisa, e também ser explodido claro. Afinal, não seria um filme do Esquadrão Suicida se não tivéssemos mortes e mais mortes espalhadas por aí, não é mesmo?
E Gunn realmente usa e abusa da classificação que lhe foi dada e aqui em O Esquadrão Suicida as mortes são as mais violentas e impactantes que podem ser. Muitas delas, Gunn usa o tubarão gigante para fazer acontecer (sem spoilers vocês viram no trailer a cena!). Mas ao mesmo tempo que O Esquadrão Suicida é extremamente violento e gráfico, totalmente impróprio em diversas situações e piadas de fazer pensar: não acredito que ele foi para esse caminho… Gunn consegue imprimir no seu roteiro e os atores conseguem passar isso em tela também, um sentimento único de que existe mais coisas do que apenas explodir as coisas e lutas bem coreografadas, um sentimento de camaradagem e cumplicidade entre os personagens, e tal em fazer a coisa certa, é muito sentido no filme.
Eles são os vilões, mas tem um pouco de humanidade e um bom coração em algum lugar, até mesmo quando estão lutando contra uma Estrela do Mar (Starro) alienígena enorme que é solta de uma base militar no meio de um país tropical e que faz a população de refém ao soltar mini versões de si mesmo e dominar suas mentes. Ao mesmo tempo que o Esquadrão Suicida precisa lutar para chegar e impedir essa grande ameaça, temos também a ilha de Corto Maltese no meio de um golpe de Estado liderados pelo Exército local e o General Suarez (Joaquín Cosio) que serve de um desvio para Gunn colocar os personagens em diversas e amalucadas situações, seja Arlequina envolvida romanticamente com um dos Generais (Juan Diego Botto), ou até mesmo o grupo disfarçado em um bar de quinta em busca de uma pista, onde temos definitivamente uma das melhores cenas do longa em disparada.
Como falamos o caos reina em O Esquadrão Suicida, mas Gunn parece que tem ele controlado em suas mãos e pelas lentes da câmera que dão um toque especial para como o filme, onde os personagens, são apresentados de uma forma muito interessante, onde na medida que vemos a história se desenvolver, tudo deixa o filme com um ar mais descolado e moderninho do que ele parece ser e isso aqui faz uma total diferença.
A mão de Gunn do começo ao fim, assim como, foi com James Wan em Aquaman e Patty Jenkins com Mulher-Maravilha, apenas comprova que a visão do diretor para esses personagens é uma das mais malucas e bacanas que já passou pelo gênero, sem deixar de ser controverso em alguns momentos. No final, O Esquadrão Suicida é um novo começo tanto para os personagens (quem sobrevive claro!), quanto para a DC e o próprio Gunn. Um recomeço grandioso e explosivo sem deixar de ser extremamente carismático e divertido de se acompanhar por 2 horas. Mal posso esperar para ver novamente.
O Esquadrão Suicida chega em 05 de agosto nos cinemas nacionais pela Warner Bros.
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