sexta-feira, 15 novembro, 2024
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Festival do Rio | O Aprendiz | Crítica: Sebastian Stan irreconhecível como jovem Trump

Sebastian Stan surge irreconhecível como jovem Trump em O Aprendiz que serve como um grande conto de alerta. Nossa crítica.

O quão polêmico é o filme sobre o ex-Presidente Trump estrelado pelo ator dos filmes Marvel, Sebastian Stan? Olha, somente pelo fato do político americano não querer que o povo veja filme e tentou barrar o lançamento do projeto nos EUA já diz muito sobre o que se pode esperar de O Aprendiz (The Apprentice, 2024).

Maria Bakalova e Sebastian Stan em cena de O Aprendiz. Foto: Cortesia do Festival do Rio.

E olha, sim o filme tem algumas cenas bem impactantes, em diversos níveis, e graus de intensidade. Desde da tão comentada cena, que vem sido debatida desde da exibição do longa no Festival de Cannes em Maio, onde o filme buscava distribuição nos EUA, entre Trump (um excelente e irreconhecível Sebastian Stan) e a já esposa na época Ivana Trump, anteriormente conhecida como Ivana Zelnickova, e aqui no filme, interpretada pela carismática Maria Bakalova, em depois de uma grande discussão, onde os dois trocam farpas e xingamentos, vamos a situação escalonar e encaminhar para uma cena bem gráfica de abuso sexual. Já em outra cena que chama bastante atenção também, temos o personagem do ator Jeremy Strong (pós fama e hype de Succession) que no longa interpreta o advogado Roy Cohn, em uma grande festa em que rapidamente o vemos em uma orgia com vários outros personagens.

Essas cenas são bem intensas, mas ao mesmo tempo coroaram a doideira que o filme quer contar, onde, particularmente acho que O Aprendiz, usa tudo isso mais como uma provocação para contar essa história do apenas chocar. O roteiro de Gabriel Sherman já abre o filme falando que o que veremos aqui é uma história ficcionalizada, mas é claro, que só uma ida ao Google que vemos que muita coisa aconteceu sim. E assim, em O Aprendiz, fica claro que a intenção do diretor iraniano-dinamarquês Ali Abbasi é de focar em mostrar os absurdos, os exageros, e todo o non-sense que envolve essa figura nos anos 70 e 80 e o contexto que Trump, Roy, e todos os outros personagens estão envolvidos.

E, talvez, a coisa mais interessante que o filme entregue é que os envolvidos, seja Stan, seja Sherman, seja Abbasi, conseguem apresentar uma história que acerta em fugir dos perigos de contar essa história de uma forma que glamourize a figura do ex-presidente e celebre seu sucesso, como se fosse uma coisa para ser celebrada.

É como se O Aprendiz fizesse questão de mostrar no meio do caos, de uma trilha sonora muito boa, e de uma edição moderninha que se certas coisas fossem diferentes no passado, hoje no presente, teríamos uma realidade bem diferente da atual. O que temos aqui, nesse filme, é um grande conto de alerta que mostra como essa cultura de ganância, de ser o melhor, e conquistar tudo, tão presente na sociedade americana entre os anos 80 e 90 serviu de moldes para o surgimento dessa figura com cabelo loiros alaranjada e que galgou sua presença até a Casa Branca anos depois.

É só ver como o modesto jovem Trump, vindo da sombra do pai e do irmão, queria ganhar fama e prestigio e para isso bolou a criação de uma impedimento imobiliário gigantesco e que levaria seu nome: a Trump Tower. É só ver como o modesto Trump, vindo da sombra do pai e do irmão, queria se mostrar para o mundo com a criação da Trump Tower.

Jeremy Strong e Sebastian Stan em cena de O Aprendiz. Foto: Cortesia do Festival do Rio.

Assim, ele vai atrás, conquista a confiança, e segue os conselhos do implacável Cohen e as três suas regras (que claro depois ele diz ser ideia dele): Atacar! Atacar! Atacar!; Nunca admitir nada e negar tudo; Declarar vitória e nunca admitir que foi derrotado. Se lá nos anos 70, Cohen trabalhou com isso, foi Trump que apenas aperfeiçoou o mantra nos anos seguintes e que se estendeu através dos anos posteriores até o dias atuais.

E o trabalho de atuação do elenco é eficaz para ajudar a contar essa história. De Stan que realmente, mais uma vez, se transforma para um papel, e acerta nos traquejos, no biquinho, no olhar, para Strong que continua no seu modus operandi de Succession, mas que aqui, combina muito bem com o tipo de personagem que o filme exige, e ainda mais, quando temos todo o arco narrativo que envolve a sexualidade do advogado e como isso bate de frente com tudo aquilo que ele preza. A dupla está incrível de se assistir. 

E como falamos, seria muito fácil cair no brilho e na atratividade desse conto de horror às avessas, afinal, é a história de um patinho feio que se torna consciente de si e do que ele pode fazer numa América moldada para um homem tipo dele ter sucesso, e principalmente, conseguir sair impune caso alguma coisa dê errado. E o filme brinca com essa linha tênue de uma forma que realmente impressiona.

É como vemos ao longo do filme, muita coisa dá errado, mas são as chantagens, o dinheiro envolvido, e a corrupção que ajudaram a Trump chegar onde chegou. E já tem um bom tempo que estamos a navegar numa safra de filmes, séries, e diversos projetos sobre golpistas, enganadores e pilantras, onde, talvez, com a chegada de O Aprendiz fique claro que o longa seja o ápice desse boom dos últimos tempos. Já que no final, fica claro que o projeto conta, talvez, a história do maior golpe de todos possíveis: colocar um cara lunático sim, mas muito inteligente, na Presidente de uma das maiores economias do mundo. E o pior, que em algumas semanas, corre o perigo dele assumir novamente o controle das ogivas nucleares mais uma vez. 

Nota:

Filme visto em Outubro no Festival do Rio 2024.

O Aprendiz chega nos cinemas nacionais em 17 de outubro.



 




Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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