sexta-feira, 15 novembro, 2024
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Mrs. America | Crítica: Um ótimo e afiado olhar sobre lados apostos do movimento de liberação feminina nos anos 70

Poder para as mulheres! Bem.. nem para todas! Com 9 episódios, Mrs. America desembarca no Brasil, um pouco tardiamente, no FOX Premium, após receber 10 indicações ao Emmy 2020, incluindo Melhor Minissérie e Melhor Atriz para Cate Blanchett que aqui é o grande chamariz da produção.

E Blanchett, Oscarizada e veterana de Hollywood, chega na TV com um papel ao mesmo tempo incrível e detestável. Blanchett brilha em Mrs. America como a lobbista Phyllis Schlafly, um dos nomes mais conhecidos do Partido Republicano nos anos 60 e 70 e uma pedra no caminho das líderes do movimento de liberação feminina que ganhou força nos EUA no período.

Mrs. America | Crítica
Foto: FOX Premium

Mrs. America muda a conversa, e não foca exatamente, em seu primeiro momento, no movimento em si, mas do outro lado da guerra, os das mulheres do outro lado, as republicanas da ala super conservadora dos Republicanos.

E em época de eleições americanas, Mrs. America faz um papel importantíssimo de colocar uma luz nos eventos do passado, e escancarar as visões incompatíveis de Schlafly – e de milhares de outras pessoas, até mesmo nos dias de hoje, e um comportamento que até é repetido e defendido em algumas partes do mundo. Mrs. America é a visão do outro lado, que em vez de o calar, mostra como ele foi propriamente dito prejudicial, e coloca em cheque tudo aquilo que Schlafly prezava. De uma forma, é a dramatização de como achamos que as coisas não poderiam pioraram, ao vermos a acensão de políticos com valores arcaicos como os atuais presidentes do Brasil e dos EUA. Na série, a ala democrata achou que não precisaria se preocupar com uma voz dizendo besteiras lá no fundo da sala, mas que no final gritou tão alto que tomou conta do lugar, e ganhou espaço.

Assim, Mrs. America mostra a loucura do discurso anti-feminista quase como se fosse uma sátira e vai desconstruindo tudo que Philys diz ser contra. Com um tom bastante didático para apresentar personagens e situações, Mrs. America faz um trabalho de histórico bastante apurado ao unir a realidade com ficção. E ao longo dos primeiros episódios, vemos o trabalho dos roteiros, e da edição, em conseguir mostrar essa batalha entre Schlafly e a ala conservadora formada por mulheres que defendiam os valores familiares, a mulher como a dona de casa, o marido como o provedor, e que eram contra o aborto, e outras questões envolvendo os direitos das mulheres, e seus corpos, de um forma geral, e o outro lado, do grupo de mulheres, liderados pela jornalista e celebridade Gloria Steinem (aqui interpretada divinamente pela atriz Rose Bryne), que defendiam a lei ERA (Equal Rights Amendment, ou em português Emenda da Igualdade de Direitos) que era apoiada pelos Democratas e estava para ser aprovada no Congresso americano depois de ter passado pelo Congresso e pelo Senado no começo dos anos 70. 

E é nesse contexto que Mrs. America é inserida e a série maravilhosamente se desenvolve. Afinal, a organização tinha até Março de 1979 para aprovar a lei que seria incluída na Constituição, e bem, sem spoiler nem nada, pois ACONTECEU, mas claro os esforços de Schlafly foram tão grandes que a Lei foi barrada, e acabou por atrasar o movimento de igualdade das mulheres em diversos anos. 

Mrs. America consegue criar toda essa aura de embate feminino, e ao mesmo tempo também entrega reflexões importantíssimas. Afinal, Schlafly não era apenas uma dona de casa entediada dos suburbios, e sim uma mulher inteligente e perspicaz, tinha consegue conquistar um poder dentro do Partido Republicano que era para poucos, e sim foi uma das figuras mais importantes e influentes para a época até mais que muitos senadores e outros políticos. E para criar essa figura carismática, e a personificação da dona de casa perfeita, Blanchett entrega um papel primoroso e incrivelmente bem atuado e esperado para uma atriz de seu calibre. A composição desde dos cabelos até os figurinos passando pelas expressões faciais que são contidas e apenas mostram um lampejo de emoções são o maior destaque de Mrs. America.

A série mostra que ao mesmo tempo que Schlafly combatia o movimento feminista, ela mesmo sofria e se aproveitava dele em vários momentos. E isso fica claro no episódio 1, quando ao chegar em Washington, D.C. para discutir uma lei armamentista com um congressista, e mesmo sendo a pessoa mais qualificada da sala, ela é calada e pedida para tomar notas da reunião. E ao mesmo tempo por conta do próprio momento que os EUA vive, e da mudança gradual no pensamento da sociedade, ela consegue sair de casa para trabalhar e se candidatar a posições políticas, mesmo que não tenha ganhado. Enfim, a própria hipocrisia.

Mrs. America | Crítica
Foto: FOX Premium

O foco de Mrs. America é sim em Schlafly, onde as outras figuras do movimento oscilam e circulam a personagem. É o caso da já citada Steinem, da política Shirley Chisholm (Uzo Aduba, ótima caracterização) a primeira mulher negra a ser eleita no Congresso americano, a advogada, e umas das líderes do grupo, a ativista Bella Abzug (Margo Martindale), e as ativistas Jill Ruckelshaus (Elizabeth Banks) e Betty Friedan (Tracey Ullman, ótima). Boa parte deles também indicadas ao Emmy 2020 por seus papéis secundários, mas também muito bem atuados. Bryne como Steinem está sensacional.

Mrs. America reúne um grupo formidável de atrizes para contar essa luta e mostra as dificuldades enfrentadas por elas para superarem o machismo vindo dos políticos homens, e principalmente de outras mulheres. Schlafly usou sua lista de mais 40 milhões de residências, personificados pelas donas de casas das atrizes Sarah Paulson e Melanie Lynskey (entre outras) para fazer campanha e barrar uma das leis mais polêmicas dos EUA e que exigiam a igualdade, salarial, e perante a sociedade, entre homens e mulheres.

No final, Mrs. America sabe muito bem contar sua história, e faz isso de uma forma incrivelmente bem feita, e entrega um dos destaques do ano na TV, sem sombra de dúvidas. A quantidade de Emmys na qual a produção foi indicada, não nos deixa mentir.

https://youtu.be/Nqr7k5gzFIA

Mrs. America chega ao Brasil com seus dois primeiros episódios no sábado, dia 19/09, às 22h15 no FOX Premium 1 que cordialmente foram liberados, de forma antecipada, ao site para fazer esse texto.

Depois, a estreia da série será a partir de terça, 29/09, às 23h00 no FOX Premium 1  – com 2 episódios por semana.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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