A Blumhouse teve um ano passado difícil e cheio de altos e baixos. Da lista de lançamentos de longas para 2023, o que era certeza de sucesso se mostrou um fracasso (seja de bilheteria ou de público) e o que parecia um cheirinho de flop se transformou em hit (seja no cinema ou no streaming). Ficou que nem tudo seria igual com M3GAN (2023) e a pressão em cima de Jason Blum estava bastante alta e, ficou claro, que a produtora sofreu um pouco para achar o caminho certo novamente, depois que a boneca tecnológica abriu o ano chutando as portas e caindo nas graças da cultura pop.
E parecia que 2024, seria um novo ano, novos filmes, e que já começaria promissor para a produtora, e para o mundinho de terror, com Mergulho Noturno (Night Swim, 2024), que tinha um elenco de nomes conhecidos e uma história que chamou atenção, mas as coisas ficaram só ali no raso e onde dá pé.
Afinal, o novo longa com o selo da produtora (que agora está em parceria com a Atomic Monster de James Wan) não mostrou para o que veio e decepciona nesse primeiro pulo nas águas dos cinemas em 2024 e se mostra um não bom começo de ano no gênero.
Mas também vamos admitir aqui que o longa não é de todo ruim, não faz uma coisa inassistível, e tenebrosa pelos motivos errados, mas também não é bom, não vale um pulo nessa piscina não, se vocês querer saber. Afinal, Mergulho Noturno entrega um filme extremamente raso na sua proposta, não se aprofunda em nada, e falha em ao saber, ou se decidir, se será um drama, não sabe se é uma história sobre traumas, uma fábula, um terror tradicional.
Baseado no curta criado por Rod Blackhurst e Bryce McGuire, que retornam aqui para o longa, fica claro que a dupla não consegue efetivamente fazer a transição da história apresentada nesses dois formatos e que poderia ser desenvolvida e esticada em longa-metragem. Mergulho Noturno tem apenas flashes do que poderia ser um excelente longa, o que é uma pena, pois tudo me pareceu tão promissor.
Com passagens que não combinam, e falam entre si, nem visualmente, nem estruturalmente na história que quer contar, e arcos narrativos que pouco se conectam entre si, ou que dão certo e que realmente empolgam, o longa tenta ser tudo e no final não entrega nada. Se McGuire e Blackhurst pecam para onde quer ir com essa história, o primeiro que também comanda a direção do filme, até consegue usar os visuais do filme de forma inventiva com boas tomadas, takes, e ideias de como transmitir a sensação de estarmos dentro dessa piscina durante as passagens do filme, mas fica cada vez mais claro que Mergulho Profundo nunca vai se aprofunda em nada.
E principalmente em relação a história e a mitologia apresentada aqui. A expectativa que cerca o mistério de o que efetivamente é essa piscina do mal, não se sustenta ao longo do filme.
Afinal, as indagações do que efetivamente acontece quando a noite chega e a piscina “ganha vida” nunca são efetivamente trabalhadas para nos fazer ficar nem ficar com medo, nem realmente se importar esses personagens. Afinal, por não se tratar de uma ameaça 100% visível, palpável, e corpórea seja um assassino mascarado, um espírito ou uma entidade, é como se a construção ao susto fosse deixada de lado para vermos a relação entre esses membros da família assumir a liderança onde o filme fica de jogar a bola entre os diversos arcos narrativos que são apresentados e explorados.
Seja as questões do filho, o tímido Elliot (Gavin Warren) com o pai Ray (Wyatt Russell), um ex-jogador de futebol americano que está doente, a relação da jovem Izzy (Amélie Hoeferle) com o pai, a relação entre os irmãos, a relação entre a mãe Eva (Kerry Condon que perdeu todo o capital que ganhou após a sua indicação ao Oscar) que por anos foi dona de casa para o apoiar a família e agora precisa voltar a trabalhar, das crianças (pentelhas) entre vi com as provocações entre irmãs, e de esposa e marido.
A forma como esses personagens também são apresentados e desenvolvidos é falha, a forma como eles aceitam o fato que primeiro é a piscina que é a responsável pelos acontecimentos ruins e também como o ex-jogador de futebol americano, e debilitado pelo agravamento de uma esclerose múltipla que só piora, veja e entenda que é por conta das águas do local que ele vê uma melhora inexplicável, faz com que as ações dos personagens fiquem condicionadas a estarem atrelados ao local quase 100% do filme.
Na medida que o roteiro começa a seguir a mãe em busca de pistas, primeiro com a corretora (Nancy Lenehan), que lhe vendeu a casa, depois para alguns vizinhos, depois na internet, e depois indo falar com os antigos moradores, e trombar com uma senhora misteriosa (Jodi Long) que era a antiga proprietária do lugar a trama vai por ganhar um certo contorno, e um contexto de o que esses personagens, e nós o público estamos por lidar.
Mas nesse meio tempo estamos nos afogando com as crianças irritantes, o marido meio abusivo (mesmo que Wyatt Russell seja o melhor entre as atuações do filme), e todos os outros personagens meio que fazendo um mistério desnecessário sobre o que aconteceu anos atrás com a família que morava anteriormente no local.
Na medida que são os Waller versus a piscina do mal, Mergulho Noturno corre para bater perna e terminar sua história. Alguns jumpscares, umas cenas envolvendo uns copos quebrados no chão, e cenas um pouco mais doidas, respiradores em personagens idosos e choros com lágrimas escuras, ditam os momentos finais, mesmo que o filme termine sem deixar, e mostrar, para que veio.
No final, Mergulho Noturno é mais um capítulo dentro da Blumhouse que vai ficar esquecido lá no fundo quando daqui 2, 3 semanas ninguém mais falar sobre o filme e o ano vai continuar, novos terrores serão lançados, e a vida seguirá seu curso. É um filme para ver, passar nem 2 horas com a história e os personagens, e voltar para casa. Não vai ser o primeiro, não vai ser o último, só vai ser mais um filme disfarçado de terror a lançado, e um, um pouco mais molhado do que o habitual.
Mergulho Noturno chega em 18 de janeiro nos cinemas nacionais.