Algumas histórias merecem serem contadas como uma forma de alertar as novas gerações sobre casos e situações extremamente difíceis de se imaginar e na esperança que no futuro não se repitam. E Luta Por Justiça (Just Mercy, 2019) entrega um filme pesado, que toca numa ferida, e acerta ao fazer o espectador se emocionar, e ao mesmo, também se revoltar sobre um sistema que claramente é inclinado a prender e executar cidadãos negros.
Baseado no livro de Bryan Stevenson, Luta Por Justiça mostra a trajetória do advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan, ótimo) na criação da organização Equal Justice Initiative que luta para revisitar as sentenças de prisioneiros no chamado corredor da morte americano. E como uma drama de tribunais, Luta Por Justiça mostra uma história de Davi e Golias com personagens reais e histórias intensas e devastadoras. E com isso, Luta Por Justiça tem seu maior triunfo: as atuações marcantes e poderosas tanto de B. Jordan quanto de Jamie Foxx.
Foxx realmente se destaca como o prisioneiro Walter “Johnny D.” McMillian, e nos entrega momentos incrivelmente bem atuados e que mostram toda a dor e desespero de uma cara que ficou preso por anos condenado por um crime que ele não cometeu, e ainda, foi preso com provas circunstancias e um depoimento duvidoso de uma testemunha que nem na cena do crime estava.
Com isso, o roteiro de Luta Por Justiça escrito pela dupla Destin Daniel Cretton (que também dirige o longa) e Andrew Lanham faz com que o espectador acompanhe Stevenson (B. Jordan) ali como se fosse uma sombra atrás do advogado, na medida que ele descobre mais sobre o caso de Johnny D., e todos os erros cometidos durante o primeiro julgamento.
Ao analizar novamente o caso, o advogado encontra inúmeras falhas no processo, e começa a reunir provas para conseguir reverter a situação do detento. E assim, Luta Por Justiça constrói sua trama de uma forma extremamente lenta, onde cada peça é apresentada e desafiada pelo Tribunal da cidadezinha no estado do Alabama, e mostra o quão cega a justiça acaba ser por conta de preconceitos envolvendo a raça dos condenados.
Luta Por Justiça então começa a mostrar seus personagens nessa busca por salvação, ao analizar todos os ângulos da convicção, onde começamos a ver o próprio do filme levantar dúvidas para o espectador sobre a funcionalidade e crueldade do sistema de pena de morte em vigor nos EUA.
E nesse ponto que às vezes Luta Por Justiça acaba por ficar mais documental, e mais como se fosse um vídeo institucional do que realmente uma dramatização. Ao mesmo tempo que temos as figuras conhecidas de B. Jordan, Foxx, outro nome que chama atenção em Luta Por Justiça é da atriz Brie Larson, que dá um tom mais leve para o longa, onde vemos a preocupação do roteiro em não deixar a personagem, a advogada branca Eva Ansley, roubar o protagonismo num filme sobre questões enfrentas majoritariamente pela comunidade afro-americana.
No final, Luta Por Justiça consegue contar, e bem, a história de Johnny D ao longo dos anos que ficou preso e de Steveson que lutou para defender tanto o detento com milhares de outros com a criação da sua organização que até hoje cuida de casos iguais ao visto no filme.
A história contada e mostrada aqui acaba por inacreditavelmente mostrada de uma forma feita para gerar um sentimento de aquietação para o espectador. Luta Por Justiça acaba por entregar um filme marcado por atores que dão as caras em filmes de super-heróis, mas aqui, os vemos interpretar heróis comuns e reais, sem o uso de capa ou superpoderes.
Luta Por Justiça em 20 de fevereiro.
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