2024 talvez se consagre como o ano que as comédias românticas vieram para ficar e definitivamente retornarem de vez para terem o destaque merecido na cultura pop. Afinal, os clichês e as previsibilidades contadas nesses tipos de histórias estão aí em Hollywood desde de sempre, mas é na forma como contamos esses clichês que está o X da questão entre entregar ou não um bom filme.
E quando esses clichês são bem contados, fica claro que temos bons filmes, onde muitos deles ajudaram aí nessa ressurreição do gênero que se por um lado está ainda por engatinhar na sua volta nos cinemas, já se vê com um lugar cativo no streaming.
E esse é o caso de Jogos De Amor (Players, 2024) que definitivamente acerta o tom para entregar uma comédia romântica engraçada, espirituosa, e principalmente divertida de se assistir. E tudo bem ser simples, que o espectador já saque a trama logo nos primeiros minutos, e o que vai acontecer com esses personagens logo de cara, afinal, é a forma como é contado fez toda a diferença.
Afinal, mesmo que simples em sua proposta, Jogos de Amor entrega um longa extremamente convidativo para se passar quase 2 horas com esses personagens que são apresentados aqui.
Sinto que se Jogos De Amor fosse uma comédia lançada nos anos 2000, hoje seria um clássico no estilo 10 Coisas que Eu Odeio em Você (1999). Mas é claro que se estivéssemos nessa época não teríamos uma protagonista latina, um protagonista masculino negro, um personagem, mesmo que coadjuvante, bissexual e possivelmente todos eles seriam homens, brancos, jovens na faixa dos 30 anos. Mas ei, estamos nos anos 2024 e graças a Deus Jogos De Amor faz uma rom-com ser o que é, com todos os clichês (até com um grande gesto grandioso no final) e faz uma que realmente conquista pelo carisma desses personagens.
De Gina Rodriguez que ganhou fama por conta do gênero lá com a série Jane The Virgin e realmente tem feito boas comédias como I Want You Back (2022) e Alguém Especial (2019) para Damon Wayans Jr. que tem deixado projetos mais pastelões já algum tempo e realmente se mostrando um ator bem versátil, e até mesmo para o restante do elenco de coadjuvantes como os hilários (e basicamente novos rostos) como Augustus Prew, Joel Courtney e Liza Koshy.
Assim, o grupo de amigos que aplicam “cantadas elaboradas” para se darem bem (piscadinha) tem uma dinâmica bastante curiosa e é o grande chamariz para se dar play em Jogos de Amor, afinal, é quase como tivéssemos um filme de assalto dentro de uma comédia romântica, onde o prêmio é garantir que o “alvo” da noite caia no papo deles.
Por isso eu digo que teria uma grande chance do longa ter só homens se fosse aprovado algumas décadas atrás, tipo um Se Beber Não Case. Mas as brincadeiras e as pegadinhas espirituosas que movimentam os primeiros minutos do longa, dão espaço para a tradicional rom-com clássica surgir também, onde o que temos com Jogos De Amor, é um garoto que já conhece uma garota e eles apenas são bons e velhos amigos.
Jogos de Amor faz questão de mostrar que Mackenzie, por favor a chame da Mack (Rodriguez), uma jornalista que cobre esportes locais, e Adam (Wayans Jr.) que também trabalha no jornal da cidade, são feitos um para o outro, mas só eles não sabem disso. Ou pelo menos não admitem. Afinal, as noites cheias de planos e arquitetações estão sempre ali para unir esse grupo de colegas de trabalho formado também por Brannagan (Prew), que escreve os obituários do jornal, e o mais irmão dele, Little (Courtney) em noitada atrás de noitada, alvo atrás de alvo.
E eles se dão bem, e se divertem, sempre que podem. Mas as coisas mudam quando Nick (Tom Ellis, saindo do sucesso de Lúcifer) um autor de livros e correspondente de guerra dá as caras no jornal e desperta a atenção do grupo. Mas para Mack, Nick é alguém que ela vê um futuro juntos, isso depois de claro aplicar uma das inúmeras cantadas com a ajuda do grupo em uma noite.
Assim, os jogos de uma flertada única se tornam mais complexos quando a jovem jornalista coloca na cabeça que quer levar aquela saída de uma noite para uma possível relação de verdade com o autor bonitão. E isso acontece, claro, mas como Mack, e nós, os espectadores, isso não deverá acabar bem para a personagem. Aqui, claro, sem spoilers.
Acho engraçado como o roteiro de Whit Anderson (em seu primeiro longa e do inédito Uglies também da Netflix) segue a fórmula tradicional de uma comédia romântica, mas sem zoar batida ou “já vi isso zilhões de vezes”. É nas falas ágeis, principalmente nos diálogos de Mack e Adam (a cena no brunch é muito boa), é no timing cômico desses atores, como na cena entre a secretária Ashley de Koshy no parque com Mack enquanto elas esperam Nick chegar para uma exibição de um filme no local que é muito boa, e ao mesmo tempo, tão embaraços de ver.
Ou até mesmo quando o grupo está do lado de fora de um museu onde Mack quer cruzar com Nick em um evento de gala de música clássica. Se o roteiro dá a corda, esses atores pescam o peixe. Por favor não olhem nos olhos deles. E diretora Trish Sie (de A Escolha Perfeita 3, ok o pior da franquia) sabe muito bem filmar esses momentos mais cômicos, sem deixar o romance de lado.
Assim, Jogos de Amor faz, e entrega de uma forma bem interessante, esse jogo entre os dois gêneros. Onde, no final, são em pequenas cenas, pequenos momentos, o carisma de Rodriguez, de Marlon Jr., e basicamente de todo o elenco, que fazem Jogos de Amor acertar no tom em cheio numa comédia romântica super gostosinha de se assistir e garante ser mais um capítulo de boas histórias para o gênero que precisava desse sopro e de mais um empurrãozinho.
Jogos de Amor disponível na Netflix.