O combo formado por Olivia Colman liderando o elenco, o diretor Sam Mendes no comando, com produção bancada pela Searchlight Pictures e que se passaria em um cinema numa cidadezinha tinha tudo para dar certo e ser um dos carros chefes da temporada de premiações do ano passado, certo?
Certo! Império da Luz (Empire Of Light, 2022) tinha todas as credenciais para passar o rodo na temporada de premiações, sem dúvidas. Tinha uma atriz de calibre feito Colman, vencedora do Oscar e cheia de bons projetos em seguida de ter levado o prêmio, Sam Mendes que emplacou o 1917 como um dos queridinhos da temporada em anos anteriores, e uma trama que se passava em um cinema e que flertava com um tema que Hollywood adora quando se autoreferência.
Mas nada disso efetivamente se materializou em levar o longa longe na temporada de premiações, tirando uma indicação na categoria de Melhor Fotografia no Oscar (que justamente a única que o filme merecia).
Assim, a pergunta que fica é: o que deu errado com Império da Luz?
A resposta é clara: o roteiro e a forma como Sam Mendes conta essa história.
Ao colocar o foco nesses personagens que trabalham em um cidade em uma cidadezinha inglesa nos anos 80, o diretor parece não conseguir compreender o que poderia fazer com esses personagens se escolhesse a contar em uma trama menos complexa, e que talvez, se o próprio Mendes tivesse mais conhecimento das situações que o longa querer tratar, talvez não tratasse desses assuntos tão delicados de uma forma quase que leviana e extremamente rasa.
Não é tanto sobre contar, e sim, o problema aqui em Império da Luz, está com a forma como a história é contada, e na abordagem de temas complicados como racismo, de tratamento da saúde mental, etarismo e tudo mais, que Mendes conta com um olhar de uma pessoa de fora desses acontecimentos.
O roteiro é falho, cheio de questionamentos sobre o que esses personagens fazem, e o que eles fazem, e por que fazem. Claro, Colman faz do pouco, muito, e apenas se comprova ser uma das mais talentosas atrizes no cinema atualmente, e aqui dita o tom como Hilary, uma funcionária senior desse cinema chamado Império da Luz que está de volta ao trabalho depois de um período conturbado, e agora medicada, precisa auxiliar a integração do jovem Stephen (Micheal Ward) ao quadro de funcionários, mesmo tempo que lida ainda com seu chefe assanhadinho (Colin Firth) que ela tem um caso.
Sem muitas conexões fora do ambiente de trabalho, principalmente Hilary que vê os colegas como as únicas interações sociais do dia, os dois começam a se envolver pessoalmente e compartilham momentos dentro do expediente juntos, e principalmente, numa parte abandonada do cinema. Claro, Império da Luz acerta em diversos outros pontos para compensar o roteiro falho e principalmente consegue entregar um filme muito bonito, visualmente e esteticamente, de se assistir. Das jogadas de luz, para as cenas mais contemplativas, para o luxo decadente do cinema e tudo mais, Império da Luz e o time de produção, capricham nessa ambientação para contar essa história.
E os atores dão os seus melhores aqui, desde de Colman, para Ward, até mesmo para Toby Jones como projecionista Norman, até Firth como Donald, o dono do estabelecimento que citamos acima. Império da Luz se passa boa parte no hall de entrada desse cinema, luxuoso, mas que sente o peso do tempo, onde esses personagens aguardam o dia para que a pré-estreia de um longa aconteça nos salões do lugar enquanto eles lidam com os clientes, e com os afazeres do dia-a-dia.
Império da Luz sabe como esconder as imperfeições que o longa tem com o charmoso cenário e com convidativas cenas que realmente passam uma sensação de acolhimento, como o próprio cinema, a sala física, passa. Um lugar onde podemos deixar nossas tristezas, aflições e problemas de lado por algumas horas.
E Colman tem uma cena, a mais linda do filme todo, e realmente uma das mais poderosas que a atriz já fez, que explica tudo nisso na medida que os acontecimentos na vida, tanto pessoal, quanto profissional de Hilary a levam para assistir um filme sozinha no cinema que ela trabalhou e se debulhar em lágrimas ao longo da projeção nessa sala escura.
Império da Luz, como falamos, nunca sabe em que focar, e resolve suas tramas que serviriam de complexos e enriquecedores debates num passe de mágica, onde uma cena, um conflito, dá lugar para o outro, sem muita cerimônia, assim como filmes que são exibidos no Império da Luz, sessão após sessão. Mendes nunca parece que efetivamente chega a lugar nenhum com esses personagens, com as questões morais que o longa, e a trama do filme, os colocam.
É tudo corrido, sem um desenvolvimento crucial para o tipo de abordagem que o longa quer fazer. É como se ele passasse por esses tópicos como a projeção passa da cabine do cinema para a telona. É tudo muito lindo visualmente, mas fraco e confuso em termos de história e o que quer contar. Nos quesitos técnicos, o longa é impecável, sem dúvidas, e Colman é o grande destaque, e entrega passagens incrivelmente poderosas e que servem como uma luz no fim do túnel para a escuridão que o filme se embrenha ao não saber contar sua história com a profundidade que deveria.
É preciso mais do que apenas nomes em um check-list para fazer um filme ter alma, coisa que em Império da Luz a produção sofre por não saber escolher e priorizar. Uma pena, era um dos projetos que eu estava mais empolgado na temporada anterior e que agora serve para movimentar um dos serviços streaming da Disney e ser esquecido dentre as diversas outras coisas que esse grupo de artistas fez, e fará.
Onde assistir Império da Luz?
Império da Luz chega no Star+ em 26 de abril.