Antes de mais nada Gringo – Vivo ou Morto (Gringo, 2018) é um ótimo exemplo de como ter uma ideia interessante para que você consiga transformar em um roteiro com um humor afiado, mas mesmo assim patinar na sua execução.
Protagonizado pelos atores Charlize Theron e Joel Edgerton o filme tem em si uma história divertida e cheia de reviravoltas mas peca por colocar em sua trama muitos personagens que acabam inflando a história e deixando o longa um pouco longo demais, afinal temos muita coisa para desenvolver e pouco tempo em tela.
Em Gringo – Vivo ou Morto, conhecemos Harold Soyinka, o ator David Oyelowo que parece estar fora da sua zona de conforto, um cara com uma vida aparentemente normal e trabalha para uma empresa farmacêutica que irá lançar um remédio com maconha medicinal. Quando Harold é enviado ao México para uma negociação, ele não imaginava que ficaria à mercê da boa vontade de seus chefes (Theron e Edgerton) para o ajudarem em uma tentativa de sequestro e um envolvimento com traficantes locais.
Com algumas piadas que funcionam mais do que outras o filme abusa de um tom mais pesado e pode ser classificado como um primo mais distante dos longas Irmãos Coen. Claro, Gringo: Vivo ou Morto tem uma série de desaventuras mas nada é muito bem trabalhado ou sutil igual aos filmes da dupla. O longa se aproxima mais de Suburbicon: Perdidos no Paraíso do que Queime Depois de Ler.
O roteiro de Anthony Tambakis e Matthew Stone acaba por criar situações engraçadas, estranhas e às vezes apela para sequências que deixam o filme com uma trama meio óbvia e que não sabe no final o que quer ser, um filme de assalto? uma comédia sem noção? um filme de sequestro. Afinal, o dilema moral enfrentado por Harold com a tentativa de forjar seu desaparecimento é mal aproveitado e é como se o personagem fosse uma versão cinematográfica Chidi no seriado The Good Place, parece que só ele liga para certas coisas enquanto vê os outros se aproveitarem da situação.
Os personagens acabam também sendo pouco aproveitados com cenas que claramente estão lá para comprovarem aquilo que já sabemos, o chefe Richard muito bem interpretado por Edgerton é um picareta, que maltrata a secretária e dá golpes no seguro. Elaine (a fantástica Theron) sua sócia também não é flor que se cheire mas ainda sim muito mais esperta do que aparenta. E a esposa de Harold, Bonnie (a mal aproveitada Thandie Newton) só serve para firmar o quão a vida do marido é patética.
O filme também peca como falamos ao incluir a trama da personagem Sunny, uma Amanda Seyfried forçada e nada carismática com o seu namorado bandido em que o roteiro convenientemente esquece em vários momentos.
No final Gringo – Vivo ou Morto poderia ter um pouco mais de foco e ser menos inchado em termos de narrativa. O filme aposta numa história interessante, às vezes com partes engraçadas, outras meio questionáveis. Com ar de comédia non-sense mas um tom abaixo do que normalmente se vê por ai, Gringo – Vivo ou Morto acaba sendo até um bom filme mesmo que um pouco esquecível.
Gringo – Vivo ou Morto chega nos cinemas em 3 de maio.