O mais curioso desse projeto é que eu só descobri a existência dele apenas há alguns meses atrás, quando foi anunciado que Grandes Hits (The Greatest Hits, 2024) seria lançado no Festival SXSW em Março. A foto da atriz Lucy Boynton (que vocês devem ter visto em Bohemian Rhapsody (2018), em The Politician e também naquele episódio de Modern Love com o ator Kit Harington) me chamou atenção no meio de diversas outras fotos, sinopses, e filmes que o festival americano que une música, tecnologia e cinema, tinha na programação.
Cliquei na foto, para logo depois cair na sinopse e fiquei intrigado pelo fato que o longa parecia ser um daqueles que foi feito, especificamente, para a gente, no caso para mim, sabe? Aqui, uma jovem volta nas memórias que teve com o seu ex, depois de que ele morreu, através de músicas que marcaram o relacionamento dos dois. Um romance? Com músicas e um elemento meio estranho e curioso? E ainda uma atriz que acho que sempre manda bem no que faz? Mal terminei de ler, e para mim, era sim. Já estava obcecado, apenas com 3 linhas do projeto e duas fotos.
Minha surpresa maior quando vi no rodapé da descrição do filme era que a produtora indie da Disney, a Searchlight Pictures estava anunciada como o distribuidor do longa, afinal Grandes Hits tinha uma carinha que seria lançado no festival, visto por uma quantidade de pessoas, e depois seria comprado por uma produtora indie como A24 ou uma Focus Features da vida, e iria ser aqueles tipos de filmes que demoraram meses para chegar aqui, sabe? E se chegasse.
E depois, quando recebi o link do estúdio para ver o filme e fazer esse texto, posso dizer, e reportar que sim, Grandes Hits é um hit, sem dúvidas! Antes de mais nada, claro, dá para dizer que a combinação que me chamou atenção para o longa alguns meses atrás, é sim, o fator principal que faz Grandes Hits dar muito certo: unir essa trama amalucada de viagem no tempo com músicas. E isso se dá pelo fato que a trilha sonora ajuda muito a criar essa ambientação convidativa para o filme, mesmo que uma bem triste, afinal, Harriet (Boynton) é uma jovem que trabalhava na indústria musical, onde depois de tudo que rolou, agora trabalha em uma biblioteca e passa boa parte do tempo livre, ou com amigo Morris (Austin Crute), ou ouvindo, e testando, discos e músicas que a conectam e a levam de volta para os momentos que viveu com o seu ex Max (David Corenswet) que faleceu em um acidente de carro.
2 anos depois do acontecido, fica claro, que isso, pode não ser a forma mais saudável de lidar com o falecimento do rapaz, mas para Harriet é o que tem para hoje, com caixas de discos marcadas como “Seguras” e “Não testadas”. Com canções escolhidas a dedo e que perfeitamente se encaixam na narrativa, Grandes Hits navega por essa representação de luto, de perda, de uma forma não só muito melancólica, mas tbm muito interessante de acompanhar, afinal, Boynton (talvez no seu melhor papel até agora) entrega uma vulnerabilidade gigante para essa mulher que busca, através das músicas, voltar no tempo e tentar impedir o acidente de carro do ex.
É impossível não se emocionar, não chorar, e até mesmo rir e amar esses personagens, afinal, é tudo muito bonito de se assistir e tanto Boynton como Corenswet tem uma química absurda juntos, depois de trabalharem na série The Politician. E não só os dois, afinal, eles até que tem bastante cenas juntos quando ela volta para o passado, ao escutar uma determinada música, desmaia e volta nas memórias com ele, mas também quando as coisas mudam para Harriet na medida que ela conhece um rapaz, David (Justin H. Min de The Umbrella Academy, e aqui fazendo as vezes de Charles Melton em Segredos de Um Escândalo, onde sai de uma série teen e estrela um drama mais sério) e precisa tomar uma decisão importante em relação a esses lapsos e como eles estão afetando sua vida, seja pessoal, seja profissional.
O mais interessante é que o diretor Ned Benson (que assume também o roteiro do depois de ter trabalhado em Viúva Negra) sabe contar essa história da forma mais bonita, colorida, sensível e íntima possível. E com a ajuda da atuação maravilhosa de Boynton é como se estivemos com a personagem vivendo essas “viagens no tempo” e passando por essa jornada de luto, não só de Harriet, mas também de David que também passa por uma situação semelhante por conta da morte de seus pais. Benson abusa de locações externas para Grandes Hits, cheia de cores, seja ao longo do dia, ou à noite, para dar um ar contemporâneo para o longa, atual, e urbano. Como falamos, o drama é bem presente mas também temos momentos tocantes, românticos e engraçados. É um conto de luto, sim, sobre processar o luto, mas também acaba por ser uma história de autoconhecimento e empoderamento para essa protagonista.
Com participações de nomes conhecidos da música, Grandes Hits acaba por ser um novo, e delicioso, capítulo de se assistir, dessas comédias românticas que tem ganhado força nos últimos anos. E no final, entrega uma emocionante, linda, e bonita história de amor com uma trilha sonora incrível. Definitivamente ficou na minha cabeça durante semanas, seja pelas decisões narrativas da história e os caminhos que Harriet toma em sua jornada, não só de auto-preservação mas também de auto-descoberta, como falamos. Assim, o que temos é um filme lindo, e obrigatório de estar em toda lista dos fãs do gênero. E que I’m Like a Bird de Nelly Furtado tenha a mesma redescoberta online que Unwritten de Natasha Bedingfield teve com Todos Menos Você.
Grandes Hits chega em 12 de abril no Star+.