domingo, 22 dezembro, 2024
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Gladiador 2 | Crítica: Ridley Scott prioriza espectáculo para entreter fãs

Ridley Scott prioriza espectáculo em Gladiador 2 para entreter fãs. Nossa crítica do longa.

“Você está pronto para ser entretido?” Olha, até que eu tava, mas depois de ver Gladiador 2 (Gladiator 2, 2024) não sei se queria ter sido, ou pelo menos, não na intensidade que fui ao longo do filme. Afinal, depois de 20 anos desde o primeiro Gladiador, o que eu mais tava esperando para a sequência era ser entretido mesmo pela sequência e pela história que seria contada, já que o primeiro filme acabou com ganchos para isso, e ainda mais numa época que ainda se engatinhava em Hollywood na criação de mega franquias. 

E o que mais surpreendeu na época do anúncio do novo filme foi pelo fato de que o diretor Ridley Scott conseguiu reunir diversos nomes, seja alguns deles em ascensão, ou já firmados, de Hollywood para contar essa nova história dos guerreiros romanos que lutavam nas arenas para animar o público, os nobres e os Imperadores. 

E o principal deles, o Coliseu, se manteve firme em ser o grande local para isso acontecer. Mas para mim, Gladiador 2 não rolou. Mas, ao assistir ao filme dá para entender o caminho e a ideia que tivemos para o filme, mas as vezes os campos das ideias é melhor do que o campo de fazer as coisas acontecerem, o que de certa forma, acaba por ser uma das ideias que um dos personagens do longa utiliza para as justificativas de suas ações. 

E vendo Gladiador 2 claramente, dá para perceber, que sim, tem muita gente que ainda pensa no Império Romano nos dias atuais. Talvez, até mesmo, o próprio Ridley Scott, com mais de 80 anos e seu time de produção. Afinal, o diretor retorna para contar uma nova história nesse mundo que deu tanto certo lá nos anos 2000 e que deu para Russell Crowe, o Oscar de Melhor Ator pelo papel do lutador Maximus, um general que se vê traído e forçado a lutar pela sua vida no imponente Coliseu.

Paul Mescal e Pedro Pascal em cena de Gladiador 2. Photo by Aidan Monaghan/Aidan Monaghan – © 2024 PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED.

E se o primeiro filme tinha uma pegada meio O Conde De Monte Cristo, o segundo, vai meio para a linha de O Rei Leão mesmo. Mas aqui, o que marca mesmo a sequência é que Scott prioriza o espectáculo, extremamente brutal e violento, feito para entreter os fãs do filme original do que efetivamente deixar o roteiro de David Scarpa (que trabalhou com Scott em Todo Dinheiro do Mundo em 2017 e também em Napoleão em 2023) contar uma boa história.

E na medida que a trama se embola um pouco, os personagens não são tão interessantes igual ao primeiro filme, e Gladiador 2 se torna quase como um espelho do longa original, fica claro que Scott apostou na sorte e deixou “os deuses” decidirem se era dedo para cima, ou dedo para baixo. 

Sinto que muita gente vai adorar o filme, que curiosamente estreia no país, uma semana antes dos EUA, já outras pessoas não. Afinal, o original Gladiador marcou gerações, ganhou prêmios, entrou para a cultura pop e o imaginário popular. Mas fica claro que nem Scott, e nem a sequência, vai conseguir replicar aquele sentimento. Talvez, por que, 20 anos depois do primeiro filme, tivemos diversos outros longas épicos de guerra, seja com histórias reais ou que passaram em mundo de fantasias (com O Senhor dos Anéis e Game Of Thrones). 

O grande problema, talvez, em Gladiador 2 seja pelo fato que o filme demora para tentar ambientar o espectador comum na trama que quer contar. Afinal, será que era preciso gastar tempos preciosos da trama para criar um mistério que o personagem de Paul Mescal não era o filho de Maximus de Crowe? Ou sobre quem realmente estava realmente conduzindo por baixo dos panos as conspirações palacianas para tentar derrubar os imperadores gêmeos (e caricatos) Greta (Joseph Quinn, ótimo e num excelente ano) e Caracalla (Fred Hechinger, sempre tão imprevisível e também no primeiro papel em grandes produções do final do ano)? 

Como falamos, Scott abusa das cenas grandiosas em Gladiador 2 e compensa num trabalho de produção de tirar o fôlego. Seja ao recriar o Coliseu, e Roma de maneira geral, nos figurinos impecáveis, na maquiagem certeira, nos cenários luxuosos de Roma. Tudo isso impressiona, mesmo que fique claro que serve  para envelopar a história fraca e que se não se sustenta ao longo das mais de 2h30min que Gladiador 2 se apresenta. 

O que é uma pena, afinal, poxa, é sim legal ver a jornada de Hanno/Lucius (Mescal, bom mas não no seu nível habitual de bom) se sair do continente africano rumo a Roma, preso como um escravo, e que tem a possibilidade de lutar como um gladiador no Coliseu para recuperar sua liberdade, cruzar caminho com a figura do ardiloso Macrinus (Denzel Washington num bom papel que parecido ter sido feito para ele), e depois continuar sua busca por vingança pelo exército do General Marcus Acacius (Pedro Pascal, em um papel desperdiçado) ter invado sua terra e matado sua esposa.

E para isso Lucius tá faz amizade com um médico Ravi (Alexander Karim) que o ajuda a refletir sobre sua jornada sangrenta. E é isso que Gladiador 2 faz basicamente o tempo todo, o longa abusa das referências, dos acenos, dos flashbacks para contextualizar o espectador para os eventos do primeiro filme. É quase como se tivéssemos com a sequência uma tentativa de reboot da franquia e querer contar a mesma história de uma outra forma. Afinal, ter passado mais de 20 anos entre os dois filmes, e a faísca gerada pelos eventos retratados no primeiro filme, com a possibilidade da Roma dos Sonhos sair do papel e ganhar força, se esfarelou mais do que as areias do coliseu nas mãos dos lutadores.

Denzel Washington em cena de Gladiador 2. Photo by Photo Credit: Cuba Scott/Cuba Scott – © 2024 Paramount Pictures.

É preciso um trabalho quase homérico para a narrativa se manter coesa enquanto tenta reconstruir essa história já que a trama não parte da onde terminou. E assim, Gladiador 2 perde muito tempo para fazer isso acontecer e as cenas de luta e porradaria servem para inflar ainda mais a narrativa. Claro, é sensacional, ver o trabalho de produção do longa, principalmente nos momentos que vemos o Coliseu cheio de água, tubarões e navios para uma das batalhas criadas para entreter a população, e de certa forma, nós o espectadores enquanto esperávamos ver a reunião entre Hanno/Lucius e a mãe Lucila (Connie Nielsen que somente repete o que vimos no primeiro filme aqui). 

Enquanto os Imperadores ficam cada vez mais imprevisíveis, surtados, e com macacos de companhia a tiracolo, alianças são feitas, apostas são ganhas e perdidas, e revelações sobre motivações e planos a longo prazo de diversos dos personagens principais, Gladiador 2 demora para finalmente mostrar para que veio. O filme sim claro entrega passagens espetaculares de se assistir pela grandiosidade, pelo escopo narrativo, e claro pelas atuações de Mescal, Washington e Quinn que realmente conseguem trabalhar e elevar seus personagens nessa narrativa. 

Mas ao mesmo tempo, o filme parece dar um tiro no pé, ou uma lança no peito,  ao demorar para chegar no que importa é o que deveria ser o foco para essa sequência. No final, Gladiador 2 talvez seja uma nota de rodapé, quando daqui alguns anos falarmos sobre Gladiador de maneira geral. Um filme gigante sim, mas que pode muito bem ser enterrado pelas areias do tempo, igual boa parte da Roma antiga tão venerada, debatida e lembrada até agora. Entretido sim? Mas qual foi o custo?

Nota:

Gladiador 2 chega nos cinemas nacionais em 14 de novembro.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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