sexta-feira, 22 novembro, 2024
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Ford vs Ferrari | Crítica

A parte mais interessante de Ford vs Ferrari (Ford v Ferrari, 2019) fica, talvez, com o fato que por mais movimentada, ágil, e até mesmo novelesca, que trama seja temos aqui um filme inspirado em uma historia real, muito bem obrigado.

Ford vs Ferrari faz mais que um filme sobre corridas, aqui temos uma produção que lida com o poder do ego do homem branco em ser sempre o centro das atenções, mesmo que para isso não precise ser ele, efetivamente, que coloque a mão na massa para fazer isso acontecer. E esse é caso do filme que mostra a disputa e as ambições entre as montadoras Ford e a Ferrari para ver quem venceria a corrida Le Mans, uma disputa que dura 24 horas, e é considerada uma das mais difíceis de se completar e competir.

E para isso, o diretor James Mangold se empenha em contar uma história bastante empolgante, e ainda, usar dois atores de Hollywood talentosos para dar vida os bastidores na disputa entre duas gigantes empresas apresentada pela visão de dois homens comuns e trabalhadores que recebem a quase impossível missão de criar, testar, colocar para jogo um carro de corrida, em 90 dias, para competir.

Para os fãs de corridas de carros, Fórmula 1, e disputas automobilística, Ford Vs Ferrari entrega uma experiência bastante intensa em sua proposta, mesmo não sendo efetivamente o foco do filme. Ford Vs Ferrari é um filme sobre egos masculinos, e como, ao serem quebrados, eles dispertam sentimentos de competição e disputas que podem soar infantis e pequenas. 

E para contar toda a jornada que levou a Ford a começar disputar a corrida francesa, a produção nos entrega todo uma ambientação da década de 60 num trabalho de figurinos e locações incrível, e que ajuda o filme neste resgate de um certo glamour americano, numa época onde os cabelos eram penteados com bastante gel, o marketing das empresas ditavam as regras para a sociedade, onde certos tipos carros eram sinônimo de prestígio e passavam uma mensagem sobre um estilo de vida americano único.

Claro, Mangold sabe retratar isso muito bem em cena, onde Ford Vs Ferrari mergulha de cabeça no competitivo mundo do automobilismo, de engrenagens, motores, e tudo mais. Não precisa ser um entendido no assunto, é como ver um filme de ficção científica, os quesitos técnicos estão lá, mas são ditos com uma naturalidade gigante. O maior triunfo do filme, talvez, fique no desdobramento das relações humanas entre os personagens, nessa busca de atingirem perfeição, e claro, colocarem seus nomes na história. 

Ford Vs Ferrari acaba por um daqueles filmes em que vemos boas atuações se sobressaírem e serem fator dominante para fazer da produção um bom filme. Christian Bale domina a cena, faz um personagem explosivo, complexo e cheio de pequenas camadas que são desenvolvidas ao longo do filme. Bale aqui acelera rumo à temporada de premiações, num papel difícil, mas que o ator entrega com maestria, coisa que poucos conseguiram encontrar um tom para não soar caricato e forçado. Ford vs Ferrari é um show de atuação de Bale.

Claro, o roteiro do trio Jez Butterworth, John-Henry Butterworth e Jason Keller, usa o talento de seus atores, como um todo, para dar uma certa encorpada na trama. Outros destaques ficam com Matt Damon que está bem aqui como Carroll Shelby, consegue até entregar uma atuação memorável, mas não se compara com seu colega de cena, e para o ator mirim Noah Jupe, como Peter, filho do personagem de Bale e que serve pra dar uma humanizada na figura do mecânico estourado.

O mesmo vale para os executivos da Ford, o chefe de Marketing Lee Iacocca (Jon Bernthal) e o vice-presidente Leo Beebe (Josh Lucas) que se mostram personagens opinões contrárias sobre o projeto de colocar a Ford no ramo de corridas e funcionam mais como um anjinho e demônio dando suas suas opiniões na orelha do magnata Henry Ford II (Tracy Letts, responsável por uma das cenas mais engraçadas do ano no banco de passageiro do carro de teste).

Bem mais do que ser um filme que se firma em conciliar datas, nomes e locais, Ford Vs Ferrari mostra uma corrida de egos, lida com a masculinidade frágil, onde tudo isso é embalado com cenas de tirar o fôlego de corridas, com diversos percalços ao longo do caminho que movimentam a trama.

Ao usar uma corrida difícil de se realizar como pano de fundo Mangold cria um filme interessante sobre figuras reais para discutir outros diversos assuntos. No final, Ford vs Ferrari mostra que às vezes para fazer um bom filme precisamos além de um bom roteiro, um diretor com uma visão claro, e boa atuações, sem muita parafernálias ou efeitos especiais grandiosos.

Nota:

Ford vs Ferrari chega em 14 de novembro nos cinemas.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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