É inegável que o casamento entre Reese Witherspoon e as comédias românticas é um já bastante duradouro. Mas, como toda relação, ao longo dos anos, parece um pouco desgastado. Vide o longa que a atriz lançou com Ashton Kutcher na Netflix que na época prometeu e só morreu na praia. E em Casamentos Cruzados (You’re Cordially Invited, 2025), a mão da atriz, e os anos de experiência com rom-coms, talvez, seja o que realmente dá a liga, e o que salva, essa comédia que chega no Prime Video. É o talento de Witherspoon para o gênero que faz o longa acontecer e não derrubar o bolo no meio da festa.
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Afinal, Casamentos Cruzados se apoia no timing cômico que ela e Will Ferrell entregam aqui, e até o ator, que normalmente sempre está um tom acima do que os outros colegas, está bem, mas sinto que tudo em volta dos dois é o que deixa a desejar. É tipo chegar em um casamento querendo um quitute de festa e estarem servindo uma finger food das mais sem graça, daquelas natureba que você tem que misturar num molho com uma aparência duvidosa.
Claro, os sinos da igreja tocaram quando a premissa para lá de interessante de Casamentos Cruzados foi revelada: Dois casamentos diferentes, no mesmo lugar, e que foram marcados na mesma data, sem querer? No início dos anos 2000 eu chamaria isso de um hit monumental e em 2009 até tivemos alguma coisa meio parecida com o simplório Noivas em Guerra com outras musas das rom-com Kate Hudson e Anne Hathaway. Mas aqui, em 2025, na Era do streaming, dá para dizer que no papel Casamentos Cruzados poderia até ser bacana, mas não passa de um arroz de festa que cai dentro da sua roupa enquanto os noivos passam.
Vou falar que é uma pena, pois adorei os personagens que Witherspoon e Ferrell apresentam no filme. Nicholas Stoller (que também cuida da direção) consegue escrever e apresentar aqui figuras opostas de se assistir e que realmente são o que dão todo o charme para o filme. Ela como Margot uma executiva implacável de uma emissora de TV, casada com o trabalho e que resolve planejar o casamento da única irmã que ela tem uma boa relação, Neve (Meredith Hagner) e ele como Jim um pai solo, helicoptero com uma relação bastante próxima com a filha Jenni (de longe um dos piores trabalhos da sempre hilária Geraldine Viswanathan) que resolve se casar de sopetão com o namoradinho, aos 20 e poucos anos.
Mas em um determinado momento, Casamentos Cruzados resolve fazer com o que filme não seja 100% sobre esses dois opostos e deixa o enemy to lovers um pouco de lado para focar em outras coisas. E tudo que Stoller acertou em Mais Que Amigos (2022) ele conseguiu errar aqui. O que é uma pena, já que essa escolha no roteiro, só prejudica o filme. Fica claro que Casamentos Cruzados sofre com personagens demais, arcos narrativos em demasia e no final parece que faz uma mistureba gigante, igual quando você vai em um casamento open bar e *precisa* pegar cerveja, depois também uísque e a vodka, só por que estão ali, sabe?
Você até consegue ver que a ideia que é apresentada no longa tem seus momentos, já que o roteiro tem (poucas) passagens realmente hilárias e que são esperadas numa produção do gênero. Dá para notar que o pouco que dá certo em Casamentos Cruzados fica por conta do elenco que, quando está bem, entrega algumas cenas para lá de engraçadas, apoiadas no humor físico, e outras até que boas mesmo que extremamente vergonha alheia.
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Como não rir do personagem de Ferrell lutando contra um crocodilo depois que rouba o animal do lago às margens do hotel onde os dois casamentos vão se passar apenas para sabotar o evento rival? Ou de ver a certinha Margot surtando por que Jim está deliberadamente atrasando a cerimônia do casamento da filha dele e fazendo com que o casamento de Neve e Dixon (Jimmy Tatro) perca o pôr do sol? Ou toda a confusão envolvendo os noivos que veem os dias de seus casamentos se tornarem um caos com chuva inesperada, decks quebrando e caindo no lago, e revelações bombásticas?
Como falado Casamentos Cruzados tem algumas boas passagens, sem dúvidas, mas que talvez só deem certo por conta do elenco mesmo e olha que no filme temos alguns que são extremamente insuportáveis em tela, seja os irmãos de Margot, interpretado por Rory Scovel e Leanne Morgan que passam o filme todo com a mesma única piada, ou as madrinhas da noiva Jenni, as atrizes Keyla Monterroso Mejia e Ramona Young que representam a geração Z da pior forma possível. Para falar que nada funciona, o assistente de Margot, que é obrigado a trabalhar para chefe nesse evento pessoal e interpretado por Stony Blyden tem boas falas. Mas é muito docinho para pouca festa, sabe?
E isso acaba por inflar a história de uma maneira que prejudica a fluidez da narrativa, já Stoller resolve criar histórias paralelas, para dar contexto para diversos desses personagens avulsos, quando na verdade Casamentos Cruzados deveria focar no que dá certo aqui, que era a relação entre os personagens principais, e não nos 40 milhões de secundários.
No final, fica claro que, às vezes, um casamento é isso né? Um monte de parente que a gente nunca mais viu e que você tem que gastar conversinha para passar o tempo. É como em uma das cenas que Margot vira taça atrás de taça de champanhe enquanto tá tentando puxar assunto mesa com a família para depois ir dar um discurso completamente bêbada só porque Jim fez um para a filha que foi muito bonito e ela é uma pessoa extremamente competitiva não deixa isso barato. Em resumo, sim, claro, Casamento Cruzados até serve como um bom divertimento mesmo que não seja lá grandes coisas. Talvez, eu só esperasse mais.
Casamentos Cruzados chega em 30 de janeiro no Prime Video.