sexta-feira, 22 novembro, 2024
InícioFilmesCríticasFestival do Rio | Vidas Passadas | Resenha

Festival do Rio | Vidas Passadas | Resenha

 Seleção oficial do Festival de Berlim e exibido no Festival de Sundance 2023. Vidas Passadas (Past Lives) tem roteiro e direção de Celine Song.

Sinopse: Nora e Hae Sung, dois amigos de infância profundamente conectados, se separam depois que a família de Nora decide sair da Coreia do Sul. Vinte anos depois, eles se reencontram em Nova York para uma semana fatídica em que confrontam noções de destino, amor e as escolhas de suas vidas, neste comovente romance moderno. 

Foto: California Filmes

O que achamos: Muito bom.

A diretora, dramaturga, e roteirista Celine Song faz sua estreia nos cinemas com Vidas Passadas e entrega um poderoso retrato de amizade, companheirismo e relacionamentos muito interessante de se assistir. Com debates contemplativos sobre essa história de dois amigos de infância que se encontram anos depois que Nora (Greta Lee) deixou a Coreia do Sul para ir morar com os pais no Ocidente quando criança e deixou, não só o país que morava, mas também o amigo Jung Hae Sung (Teo Yoo) para trás, o longa de debruça em diversas questões refletivas sobre o que podemos esperar desses personagens nessa história encantadora.

Assim, com Vidas Passadas, Song não entrega um filme com respostas fáceis, ou um filme com uma fórmula de um romance tradicional a ser seguida. E sim, um longa que mostra a complexidade dessas relações, as diversas possibilidades que nossas escolhas têm sobre nossas vidas e como, no final, nossas decisões no presente, baseadas em outras decisões do passado, impactam nosso futuro.

Em um dos momentos do filme, o marido de Nora, o americano Arthur (John Magaro) comenta ser “o americano branco malvado que está para atrapalhar os dois amigos de infância na busca de ficarem juntos”. E de forma bem humorada, fica claro que o personagem sabe, e que o texto de Song brilhantemente pontua, que essa história não é sobre isso, e sim, sobre muito mais. Vidas Passadas é sobre os caminhos não percorridos, as decisões não tomadas por diversos N motivos e como esses personagens escolheram se reconectar mesmo com os diversos percalços que a vida impôs para essa amizade por outros diversos X motivos.

E toda a questão que o filme apresenta sobre In-Yun, uma ideia, conceito ou provérbio sul-coreano que diz que todas as pessoas estão conectadas nessa vida por já terem tido algum tipo de conexão em vidas passadas (e daí o título do longa) se mescla por demais com a trama do filme, com esses personagens, e com o texto tão bem escrito de Song sobre esse tema. Nora até brinca que isso é apenas uma cantada que os sul-coreanos usam, e a forma como o longa vai de 8 para 80, é louvável e um dos principais destaques de Vidas Passadas, sem dúvidas.

Bem humorado para quebrar a seriedade dessas conversas, Song coloca diversos momentos mais engraçadinhos como esse citado acima, na medida que conhecemos mais da vida de Nora e os caminhos que a levaram a estar onde está hoje.

Dos sonhos de quando criança em ganhar um prêmio Nobel, e que quando adulta mudaram para ganhar um prêmio Pulitzer e depois para um Prêmio Tony (ela trabalha com peças de teatro), tudo isso serve para mostrar como nossas visões de mundo (aqui representadas pelas de Nora), e o cenário social que nos cerca, e as oportunidades que temos mudam de acordo com a nossa trajetória de vida.

O longa trabalha para dar o espectador uma visão panorâmica de todas as variáveis dessa equação para mostrar para o espectador que nem tudo é preto no branco nessa história focada na personagem. De Nora encontrar o perfil de Jung on-line, para as diversas trocas de mensagem e chamadas de Skype, para as barreiras que a distância entre eles impedem essa reunião depois de mais de 20 anos, e depois, vemos a personagem ir para um retiro de escritores onde ela conhece o marido, e depois mais 12 anos depois com ela já nessa relação por um bom tempo, se vê de surpresa, quando Jung e avisa que vai passar as férias nos EUA, e eles enfim se reencontram depois de anos.

Assim, o longa coloca Nora para refletir como seria sua vida se tivesse ficado na Corea e tudo mais. É como a personagem comenta em um determinado momento, nos EUA ela parece nunca ser americana o suficiente, e com Jung ela nunca parece ser coreana suficiente, e isso é uma das reflexões mais poderosas que Song, junto com o trabalho fenomenal de Lee, nos entrega em Vidas Passadas.

Tudo isso, o ar teatral sem soar maçante, contribui para deixar Vidas Passadas um filme extremamente emocionante e tocante. O trio principal está muito bem, principalmente nas cenas que estão todos juntos, desde dos momentos iniciais que abrem o longa, no bar, até mesmo para o encontro dos personagens no apartamento do casal. Mas como falamos Lee é força que move esse longa, e a atriz, depois de participar de diversas produções como coadjuvante, finalmente assume o protagonismo merecido em Vidas Passadas.

No final, o que temos é um filme sensível, onde Vidas Passadas faz um retrato íntimo de uma história e de um tema universal independente de onde vem cada um de nós. Sem dúvidas, um dos filmes mais bonitos, interessantes e reflexivos do ano.

Nota:

Chega no circuito comercial em Janeiro de 2024.

Try Apple TV

Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
Sempre posso ser visto lá no Twitter, onde falo sobre o que acontece na TV aberta, nas séries, no cinema, e claro outras besteiras.  Segue lá: twitter.com/mpmorales

Artigos Relacionados

Deixe uma resposta

Newsletter

Assine nossa Newsletter e receba todas as principais notícias e informações em seu email.

Mais Lidas

Sutura | Primeiras Impressões: Série nacional costura ótima Cláudia Abreu com trama cheia de reviravoltas

Nova série médica nacional do Prime Video costura ótima Cláudia Abreu com trama cheia de reviravoltas. Nossa crítica de Sutura.

Últimas

“Quanto mais convincente, quanto mais familiarizado que tivéssemos com isso, com os termos médicos (…) melhor.” afirma Claudia Abreu em bate-papo sobre a...

"Quanto mais convincente, quanto mais familiarizado que tivéssemos com isso, com os termos médicos (...) melhor" afirma Claudia Abreu em bate-papo sobre a série médica Sutura