sexta-feira, 22 novembro, 2024
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Estou Pensando em Acabar com Tudo | Crítica: filme mais pirado de 2020

UAU. Em um dos momentos de Estou Pensando em Acabar com Tudo (I’m Thinking of Ending Things, 2020) uma das personagens diz que “UAU é uma exclamação que serve para tudo. Pode significar que você adorou, ou que você não tem palavras para descrever a porcaria que é”. E isso é o grande sentimento que o espectador deverá ter quando terminar o novo filme do diretor Charlie Kaufman.

Nos últimos tempos tivemos filmes que movimentaram, e dividiram as opiniões dos amantes de cinema. Por exemplo, lá em 2017 tivemos o longa mãe! do diretor Darren Aronofsky, já em 2018 foi a vez de Hereditário de Ari Aster, e logo depois, em 2019, tivemos novamente o diretor Ari Aster com um outro filme que ficou na boca do povo, o terror folk Midsommar – O Mal não Espera a Noite. E agora, em 2020, temos com Estou Pensando em Acabar com Tudo o filme polêmico da vez. Aqui, o longa não fazer sentido nenhum, talvez, seja a única coisa que faça sentido nesse filme. Inundado de reflexões super intensas e monólogos exaustivos, em Estou Pensando em Acabar com Tudo a coisa que mais deverá passar na cabeça do espectador é quando tudo isso vai acabar…e se vai acabar de alguma maneira satisfatória.

Um spoilerzinho: não vai.

Estou Pensando em Acabar com Tudo | Crítica
Foto: Mary Cybulski/NETFLIX

Em outro momento, um dos personagens diz “O filme é totalmente tendencioso e foi bem planejado, mas não foi bem pensado.” coisa que também define a produção de Kaufman para a Netflix. O longa atira para todos os lados, flerta com diversas justificativas para a trama maluca, mas é como andar na grande nevasca que cerca a longa. No filme, parece que nós o espectador, apenas andamos e andamos, e não vamos para lugar nenhum (ou vamos…mais sobre isso abaixo, *COM SPOILERS*!). Não que os simbolismos e as metáforas que o longa apresenta não sejam bons ou interessantes, pois em alguns momentos eles são sim, realmente são, mas não nos levam para lugar nenhum de uma forma cristalina. Seria a história uma grande viagem no tempo? Seria alguma coisa relacionada a possessões demoníacas? Ou ainda, será que o filme mostra uma outra história de um outro personagem, só que vista por uma visão diferente?

A primeira hora é incrivelmente sedutora e convidativa, vemos uma jovem (Jessie Buckley, ótima) com sentimentos conflitantes sobre sua vida, o que acontece ao redor, e sobre seu relacionamento com seu namorado Jake ( Jesse Plemons) que conheceu tem poucos meses. Eles estão em viagem para a casa dos pais do rapaz, e ao longo do percurso, Kaufman mantém a câmera colada na cara dos atores, onde no espaço pequeno do carro, nem eles, nem a gente, não tem nenhum lugar para onde ir. Assim, a dupla de atores nos entregam diálogos estranhos e super cabeçudos sobre tudo e diversos assuntos. A expectativa para a chegada deles na casa dos pais de Jake é grande e basicamente o sentimento de tensão que o filme cria para isso é enorme e sentido na atmosfera desse começo, tal como toda a viagem carro é. Estou Pensando em Acabar com Tudo consegue criar tudo isso de uma forma incrível, super incômoda, e realmente nos passa a sensação claustrofóbica que alguma coisa está bem errada.

E realmente ficamos curioso para saber o que vai acontecer no meio disso tudo. Em Estou Pensando em Acabar com Tudo tudo é muito desconexo, como se estivéssemos em um sonho, aqui no caso, um pesadelo. Os personagens não se comportam de uma forma normal, alguns nem nome tem, é tudo muito teatral, afetado, mas parece que essa é a intenção que Kaufman quer passar ao adaptar a história do livro de Iain Reid. Entram mãe (Toni Colette, em mais uma atuação fantástica e no segundo filme polêmico da lista aqui citado) e pai (David Thewlis) e realmente se Estou Pensando em Acabar com Tudo já se apresentava de uma forma peculiar, com a entrada da dupla de atores, isso dobra, e temos mais momentos estranhos em tela.

Colette e Thewlis dão o tom, elevam o filme para outro patamar, e realmente se destacam no filme, onde vemos o casal de jovens participar de um dos jantares mais estranhos dos últimos tempos. Tudo está fora do lugar, desconexo, e as coisas ficam cada vez mais estranhas e confusas tanto para a nossa jovem protagonista – que muda de nome, e de profissão a cada cena – quanto para nós espectador que estamos ávidos por respostas, sabe Netflix? O que tá acontecendo aqui, minha filha?

O longa flerta com os mistérios da casa e eventos estranhos começam a se desenrolar, seja a presença de um porão proibido, ou dos pais que dão risadas altas fora de hora, envelhecem quando mudam de cômodo, e mudam de aparência o tempo todo. Como falamos, tudo em Estou Pensando em Acabar com Tudo, é muito estranho. E junto com essa viagem de carro do casal de pombinhos, temos as cenas intercaladas de um zelador (Guy Boyd) que aparentemente trabalha em uma escola e que realmente não se conecta muito com a trama. Aparentemente.

Estou Pensando em Acabar com Tudo | Crítica
Foto: Mary Cybulski/NETFLIX

Na segunda parte do filme, o personagem ganha mais destaque e a trama parece piorar em sua excentricidade e piração. Afinal, passou o jantar, Jake e sua namorada saem novamente durante a nevasca, e temos novamente os dois dentro do carro, mas agora com idas à sorveteria no meio do caminho, e claro, ao colégio de infância de Jake onde o zelador trabalha.

E talvez seja aí que tenhamos a chave para conseguir entender a mensagem de Estou Pensando em Acabar com Tudo. A terceira frase que separamos é quando um dos personagem do filme diz  “O simbolismo idiota já faz querer vaiar, mas esse filme de 2h35 min atordoa tanto que você só consegue lamentar” e também diz muito sobre o longa.

O que eu tiro de conclusão para Estou pensando em acabar com tudo, aqui com spoilers, é que o filme se perde em suas próprias divagações, entrega uma grande e carnavalesca história sobre caminhos não percorridos, sonhos esmagados, e ilusões tão fortes que se acabam por se tornar realidade para esses personagens. Para mim, o Jake é figura imaginativa do zelador que viu sua vida não ir para onde queria, e ele acaba por imaginar uma outra, aquela dentro dos filmes que ele assiste, onde as “pessoas bonitas” que contam sua história. As atendentes bonitas da loja de sorvete são as adolescentes que trataram mal quando criança, a atendente boazinha cheia de cicatrizes é uma pessoa que também sofreu bastante na vida e que consegue o ver como ele é: um rapaz inteligente que ficou preso numa cidade pequena com o sonho de se tornar um grande Físico, ganhar o Prêmio Nobel e conhecer uma mulher que o amasse. Mas nada disso aconteceu, e talvez, Estou Pensando em Acabar com Tudo faça um ousado, e triste, sonho dentro de um sonho, muito mais complexo do que a trama de Christopher Nolan em A Origem (2016). Mas claro tudo é aberto à subjetividade, onde cada um deverá sair com um final para chamar de seu, e vai passar pelo filme com uma experiência única e própria, afinal, filmes desse tipo não tem apenas um final definido.

Estou Pensando em Acabar com Tudo deve ser aquele tipo de produção que unirá o film twitter em discussões intermináveis durante o resto do ano de 2020. Fiquem de olho nos mais diversos finais explicados, teorias, e tudo mais nas próximas semanas.

No final, as ótimas atuações, a narrativa convidativa, e os diálogos densos fazem com que Estou Pensando em Acabar com Tudo entregue uma incrível loucura visual para falar sobre morte, o poder da memória, e o terminar de sua jornada de uma forma que deve dar um grande nó na cabeça de quem assistir. Precisa ver agora se o espectador, acostumado com filmes teen, e produções mais comerciais na Netflix, vai aguentar o falatório intenso dos 2 protagonistas dentro de um carro pequeno, durante uma nevasca, por mais de 2 horas. Eu gostei.

Avaliação: 4 de 5.

Estou Pensando em Acabar com Tudo chega em 4 de setembro na Netflix.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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