Convenhamos que Anya Taylor-Joy e Miles Teller fizeram o peso pesado na divulgação de Entre Montanhas (The Gorge, 2025). A começar pela vinda da dupla para a CCXP no final do ano passado que serviu para colocar o projeto no mapa. Afinal, pouco se sabia do longa em si, muito mais sobre o que se tratava, e ter os dois num dos maiores eventos de cultura pop mundo era uma boa ideia para efetivamente começar a campanha de divulgação.
Mas até mesmo dois meses depois da vinda dos atores para o Brasil, não estava claro o que poderíamos esperar do novo longa da produtora Skydance e que chega no serviço de streaming da Apple que parece ter como meta em 2025 se popularizar. Que o AppleTV+ tem produções incríveis já é um fato, mas as pessoas estão assistindo elas?
E por mais que fique difícil entender como um longa estrelado por dois atores até que conhecidos em Hollywood e dirigido Scott Derrickson, no primeiro filme do ano do diretor, tenha tido pouca divulgação, talvez, o mistério que cercava o filme foi para o melhor? Talvez, seja por porque a Apple quisesse que o público desvendasse os segredos que Entre Montanhas apresenta ao mesmo tempo, como se o filme precisasse de um único tiro certeiro, onde seria o boca-a-boca entre os os fãs das séries de sucesso mais recente da plataforma como Silo e Ruptura fizesse o trabalho por eles.
Afinal, o que sabíamos era que Entre Montanhas acompanharia dois agentes super treinados, com passados turbulentos e habilidades militares excepcionais e que foram contratados para vigiarem cada um, uma estação isolada, que fica cada uma acima de uma montanha entre um grande desfiladeiro. E Entre Montanhas se comporta, no começo, como um filme de ação desses qualquer, mas ao longo das duas horas de duração vamos passar por bastante coisa.

Começamos com um soldado com um passado misterioso, sem família, caladão e que vive com o remorso de anos de missões e corpos empilhados, onde Miles Teller (curiosamente voltando aos holofotes na mesma época que um novo Quarteto Fantástico está para sair) entrega esse personagem de uma forma muito competente, sem dúvidas. Principalmente no começo de Entre Montanhas, quando somos apresentados para Levi e vemos ele ter interagir com quem definitivamente tá pagando as contas da sua próxima missão, a personagem de uma manda-chuva misteriosa com terninho interpretada por Sigourney Weaver, numa participação para garantir um din-din aí, entre um Avatar e outro.
E no papel de Levi poderíamos ter qualquer um desses atores jovens em ascensão de Hollywood no papel desse soldado-atirador, seja Glen Powell, Noah Centineo, Jacob Eldorid, e tudo mais. Mas é colocar Miles Teller (que também está na produção executiva do filme) ao lado de Anya-Taylor Joy que é o que dá a liga para Entre Montanhas e que faz toda a diferença para o longa.
Afinal, os dois estão basicamente em todas as cenas do filme. Sejam juntos, ou separados. E enquanto vemos Levi se preparar para embarcar na missão, vemos também uma jovem do leste da Europa, uma excelente atiradora, e mercenária chamada Drasa (Joy muito bem aqui, principalmente após Furiosa e que serve para tirar a impressão negativa) também preparar e despedir do pai.
Entre Montanhas então faz com que esses dois personagens sirvam como nossos olhos para essa história na medida que os vemos chegarem via helicóptero e adentrarem esse local super secreto, isolado, e num lugar remoto. Quando um outro soldado (Sope Dirisu, num papel pequeno, mas eficaz) recebe Levi, aproveita para também conta tudo que ele precisa saber sobre o lugar que o novo soldado vai passar seus próximos 365 dias.
E é aí então que vemos que, talvez, Entre Montanhas tenha mais para contar. O roteirista Zach Dean (que trabalhou nos longas Velozes e Furiosos 10 e A Guerra do Amanhã) não só acerta em como introduzir essa história para o público, mas também o que contar, como contar, e quais informações contar antes de mostrar tudo que a trama esconde e que é desvendada aos poucos.
O mais bacana de Entre Montanhas é que o filme passa essa sensação de mistério e fica com essa mistura de que tipo de filme quer ser, e que talvez, o time da Apple tenha segurado maiores informações possíveis sobre ele de propósito. Afinal, num primeiro momento parece um filme de ação genérico, mas evolui para um romance, para um filme de sobrevivência, lá Um Lugar Silencioso, para um filme pós-apocalíptico, meio Fallout.
Ao flertar com diversas possibilidades, e ao construir sua narrativa de uma forma que a cada momento, ou piso em falso, que Levi e Drasa dão quando resolvem se aproximaram um dos outros, mesmo cercado por um penhasco gigantesco, descobrimos mais sobre tudo que acontece, e o que estão querendo esconder ali.
Particularmente, a melhor parte de Entre Montanhas fica quando vemos Levi e Drasa se conhecendo, com uma trilha sonora meio pop, e uma edição digna dos melhores filmes rom-com, e tudo isso se dá muito mais pelo tom de flerte causal espertinho que Joy e Teller dão para esses personagens. Tipo uma versão de Enrolados em live-action, sabe? A dupla se dá muito bem nesse quase um enemy to lovers e que deverá fazer um certo sucesso com o público feminino. As trocas de mensagem via placas, com um olhando no binóculo para o outro, quilômetros de distância? É preciso talento e um nível de parceria muito grande.
Já para o público masculinho, Dean garante diversas outras passagens que colocam os pombinhos em rota de colisão com o que está escondido quilômetros abaixo da montanha que Levi e Drasa precisam vigiar. E com a ajuda do texto, seja na parte da relação entre dois, ou o que eles precisam proteger, Derrickson então usa isso para criar boas cenas de ação, de perseguição e que são exploradas com um toque de terror e alguns jumpscares na medida que saímos das instalações e vamos parar no único lugar que eles não poderiam ir: no desfiladeiro abaixo deles, entre as montanhas.
E claro, descobrir o que eles estão protegendo. Ou impedindo de sair de lá. E claro, descobrir o que eles estão protegendo. Ou impedindo de sair de lá. Entre os filmes que a Apple lançou nos cinemas recentemente em parceria com outros estúdios, talvez, Entre Montanhas e Lobos (lançado no ano passado) talvez tenham sido os que mais eu senti falta de ter visto na telona, vi ambos, no meu computador com uma marca d’água gigante de segurança.
Foi uma pena, já que Entre Montanhas tem um aspecto cinematográfico bastante impressionante se formos pensar na escala de história, e de criação de mundo, e até mesmo de uma possível franquia e que tem a possibilidade de mudar um pouco a situação do streaming em garantir novos assinantes.
No meio de algumas surpresas, alguns sustos, uma grande mitologia que nos leva anos para o passado, e apoiado na química absurda de Teller e Joy, Entre Montanhas faz um grata surpresa e que mostra que, às vezes, algumas coisas escondidas precisam mesmo serem encontradas e somente aqueles que se arriscam a ir longe demais podem descobrir até onde é possível ir. Você vai entender essa última depois de voltar das montanhas.
Entre Montanhas chega em 14 de fevereiro no AppleTV+.