Ora ora ora parece que temos um (bom filme de) Sherlock Holmes aqui.
E Enola Holmes (2020) faz tudo aquilo que se propõe em seu material de divulgação, ser uma divertida e empolgante aventura Sherlock Holmes, só que aqui, quem ganha o destaque é a irmã caçula do famoso detetive, a espevitada e tão inteligente quanto, Enola.
Comprada da Warner Bros., que planejava um lançamento nos cinemas, a Netflix consegue deixar Millie Bobby Brown em casa, no seu próprio mundinho, ao interpretar a personagem, e realmente Enola Holmes cai como uma luva no catálogo do serviço de streaming. Enola Holmes é tão a cara do algoritmo da Netflix que o grande mistério é como esse projeto não foi parar na plataforma antes, lá na fase de desenvolvimento, antes mesmo de cair na Warner Bros.
A atriz teen Millie Bobby Brown está encantadora no papel, e mostra uma desenvoltura muito maior que seus outros projetos fora do Mundo Invertido da Netflix. Anteriormente, Brown parece que encarnava a sua Eleven em tudo, até mesmo quando não estava na série que a jogou para o estrelato na própria Netflix. Mas aqui, talvez, por estar mais velha, com mais anos de prática, e com um papel completamente diferente, Brown parece ser uma outra atriz, mais madura e completamente confortável com a personagem, e com o tipo de filme que Enola Holmes é.
Claro, as gracinhas da quebra da quarta parede – onde o diretor Harry Bradbeer que comanda o filme é o mesmo da série Fleabag que por mais que não tenha criado a técnica, é a grande responsável pela sua popularização – , e a trama aventuresca cheia de charadas para o público resolver, junto com a personagem, dão o tom para filme, sem dúvidas, mas talvez a grande peça que se encaixa no grande quebra-cabeça desse filme, fica com o seu elenco que como um tudo que é muito bem escalado.
Em Enola Holmes, Brown é o grande destaque, assim como Henry Cavill, como o detetive Sherlock Holmes, que vem, por conta de seu problemas de bastidores com a Warner nos filmes da DC, procurando outros projetos que o separam de ser o eterno Superman. Se em Missão: Impossível – Efeito Fallout (2018) Cavill pouco falava e dependia muito das cenas de ação, aqui em Enola Holmes é elementar meu caro leitor, afirmar que ele está muito bem, obrigado. O Holmes de Cavill é um pouco diferente daquele que já vimos, mais preocupado com as emoções e família do que resolver o caso, e um dos motivos do longa dar um pouco de dor de cabeça para a plataforma há alguns meses, e o ator está realmente muito bom, mesmo que não seja o foco do longa, que fica totalmente com sua irmã.
Descobrimos que Enola é a jovem irmã de Sherlock e Mycroft Holmes (Sam Claflin), que mora com a mãe Eudoria Holmes (Helena Bonham Carter) e foi criada cercada de livros, experimentos químicos e aulas de lutas marciais. Quando Eudoria some, cabe aos irmãos Holmes se reunirem para encontrar a mãe, no caso Sherlock e Mycroft, pois Enola vai parar num colégio interno para se tornar uma dama da sociedade em uma Escola para meninas comandada por uma diretora pulso firme (Fiona Shaw), como quer seu irmão pomposo e arrogante Mycroft.
Enola Holmes sofre um pouco com isso, não pelo fato de ser um filme que dá atenção para a jovem e não para o irmão mais conhecido, mas pelo que fato que o roteiro de Jack Thorne, baseado no livro de Nancy Springer, precisa, além de apresentar e construir o grande caso de mistério do filme, introduzir todos os membros da família Holmes para esse novo filme, e claro, esse tipo de público, os fãs de Bobby Brown, nas histórias do maior detetive do mundo.
E assim, sinto que Enola Holmes sofre um pouco com seu ritmo, e como quer contar sua história, claro, achamos que o grande mistério do filme é o desaparecimento da mãe dos irmãos Holmes, mas ao longo da trama, a vemos sofrer uma curva e nos mostrar outra história que demora para ser definida como a história principal do filme, quando o jovem Lord Tewksbury (Louis Partridge) aparece, fugindo da família, e de uma capanga, em um trem e encontra com a jovem Enola que o ajudará a fugir.
E isso, infla a trama que entrega um filme de 2 horas que poderiam ser cortadas sem sombra de dúvida. Claro, a trama do Lord se conecta com a do desaparecimento de Eudoria, mas leva um bom tempo para entendermos como e por que disso de acontecer. No meio tempo temos charadas, e Brown olhando para a câmera e fazendo piadinhas à todo tempo. Tirando isso, Enola Holmes entrega uma história empolgante e completamente interessante de se ver e se acompanhar, com a já citada técnica de quebrar a parede, cabe a nós o espectador acompanhar a jovem Enola na medida que ela tenta resolver as questões deixadas, e nos convida a fazer o mesmo. Os quebra-cabeças como os nomes embaralhados, Enola é Alone (sozinha em inglês, ao contrário), ou as pistas deixadas em objetos (como o vaso de flor tão importante!) são bastante divertidas e nos levam a basicamente participar da trama e tentar desvendar o mistério.
Enola Holmes ainda tem uma ambientação de época de uma Londres antiga muito bem feita, com visuais de época bem caprichados, e que fazem parte da trama do filme, principalmente quando Enola tem que trocar de roupa, e colocar vestidos e se disfarçar como uma pessoa que jamais seria, uma dama, e andar disfarçada para fugir dos irmãos, e de um capanga, e claro de outros inimigos que ela faz ao longo do caminho.
No final, Enola Holmes faz de fato um coming of age para a irmã do detetive mais famoso do mundo, que parece ter a vontade de trilhar seu próprio caminho em uma franquia (mais uma!) para Brown. Por mais que faça um mistério até que simples em sua resolução, e não muito elaborado, Enola Holmes entrega um que não pode deixar de ser visto e desvendado juntamente com seus personagens carismáticos. Quem sabe assim, não faz o público alvo do filme conhecer as outras história, as mais sérias, do irmão famoso da jovem. Hashtag Partiu, 221B, Baker Street, Londres?
Enola Holmes chega em 23 de setembro na Netflix.
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