Ele é o décimo quinto Doutor, mas quando a nova temporada de Doctor Who estrear no Disney+ será como se estivéssemos vendo o personagem pela primeira vez. E é meio que é esse o sentimento que os novos episódios do seriado, que chegam pela primeira vez no streaming junto com o lançamento na BBC, passam.
E muito do que dá certo nessa nova temporada, fique, talvez, por conta da presença do carismático Ncuti Gatwa (visto na série Sex Education e como um dos Ken no mega hit Barbie) como o personagem título que retorna depois do ser introduzido nos especiais de 60 anos do personagem lá no ano passado e que marcaram o retorno do queridinho dos Whovians, o ator David Tennant no papel do mesmo personagem.
Então, depois de anos de homens brancos no papel do Doutor tivemos uma mulher e agora temos um ator de cor, e abertamente LGBT, como esse viajante no tempo misturado com Sherlock Holmes e que ajuda a entregar novos episódios dessa atração extremamente bem humorada e bastante britânica de se assistir. E mesmo com muitas mudanças para o seriado (novo Doutor, nova temporada, novo formato de lançamento), é por conta de Gatwa no papel, que a série consegue manter a essência do personagem nessa nova leva, onde o ator entrega um excelente novo Doutor. Fica claro aqui é que o que temos é um personagem moderno, mas que mantém as tradicionais características que o fez ser uma figura tão amada por anos e a série ser um grande sucesso britânico ao longo dos tempos que foi.
E se o casting de Gatwa foi perfeito para dar um up no personagem, o mesmo vale para o companheiro de aventuras nesta nova temporada, e aqui interpretada pela atriz Millie Gibson, como Ruby Sunday, que realmente está muito bem também. Os novos episódios são divididos da forma e que eu, particularmente, acho que é a melhor divisão possível para esse tipo de reboot da franquia.
Assim, a nova temporada abre com o episódio de Natal (lançado no ano passado) The Church on Ruby Road que nos apresenta para a história de Ruby, uma jovem órfã que quando bebê foi deixada na noite de Natal em uma igreja. Anos se passam, descobrimos que ela morou com a mãe adotiva (Michelle Greenidge) e vive se metendo nas maiores confusões por conta das criaturas traiçoeiras dos Goblins.
Até que a chegada do Doutor parece abrir para Ruby as portas de um novo mundo e responder algumas perguntas sobre seu passado. O episódio de Natal é fundamental para entendermos a trajetória desses dois personagens para os próximos, e principalmente, ser o começo para a grande história por trás desses novos capítulos que parecem estarem conectados com Ruby, o dia que foi abandonada, e sua mãe misteriosa. Será que vamos ter a resposta de quem é a vizinha que aparece e olha para a câmera no final?
Assim, The Church on Ruby Road se comporta mesmo com uma grande introdução (ou reintrodução) para esse mundo, para os conceitos, a mitologia e o que podemos esperar da temporada de maneira em geral. Apresentada a figura do Doutor, de Ruby, da TARDIS e como esse universo funciona, a temporada começa efetivamente com o amalucado, mas extremamente divertido, episódio 2 chamado Spice Babies, onde vemos o Doutor e Ruby em sua primeira aventura juntos em uma estação espacial que foi abandonada, onde bebês comandam o lugar. E claro, no porão, existe a figura do Bicho-Papão.
O capítulo tem um mix de inocência por se tratar de bebês, com uma coisa um pouco mais sombria por conta da criatura que ataca os personagens logo quando a TARDIS chega por lá. Mas é tudo bem contado e autuado que realmente dita o tom para como vai ser a temporada. Assim, acho que realmente, a leva inicial de episódios de Doctor Who, serve para introduzir a série, os personagens, e tudo mais para uma nova geração e além disso uma geração do streaming.
O texto de Russell T Davies (que retorna nas funções de roteirista e ainda atua também como showrunner e produtor) é bem explicativo para quem entra a bordo da TARDIS pela primeira vez e terá contato com Doctor Who no streaming. Ao mesmo tempo que situa o espectador na série, o episódio de retorno da aventura espacial entrega boas reviravoltas, além de ser marcado pela participação especial da talentosa Golda Rosheuvel (vista em Bridgerton) que aqui aparece com uma figura interessante para o desenrolar da trama que ganha ares da franquia Alien com Ninguém Segura esse Bebê (1994).
E se Gatwa e Gibson estão bem, o mesmo vale para a drag queen Jinkx Monsoon que rouba a atenção no episódio 3 The Devil’s Chord, onde a TARDIS leva nossos protagonistas para a Inglaterra dos anos 60 com a Banda Beatles. Na medida que o Doutor e Ruby, estilosamente com roupas e cabelos da época, navegam pela cidade e tem contato com os músicos, Monsoon entrega com a figura vilanesca Maestro, uma personagem extremamente excêntrica e caótica, mas totalmente no tom desses novos episódios.
Assim, o novo Doctor Who brinca com luzes, com cores, tanto na paleta de fundo, quanto nos figurinos dos personagens, com um roteiro extremamente afiado, e com o carisma e personalidade que Gatwa dá para essa nova versão do Doutor. Esse novo Doutor, aliás acaba por ser um estiloso e sorridente, mas que continua a ser intrigante, misterioso e principalmente extremamente carismático. É como se Gatwa fizesse questão de transparecer que seu personagem sabe alguma coisa e só tá esperando alguém o perguntar sobre e falar sobre o tópico.
No final, a nova temporada de Doctor Who parece ser mais sobre a jornada de Ruby em descobrir mais sobre o seu passado (coisa que parece que vai ser explorada nos próximos episódios), mas pelo menos nesse começo a atração faz um sólido e divertido começo.
Nada é impossível para um Doutor estiloso e uma loira companheira.
Doctor Who chega com 3 episódios (O Episódio de Natal mais os 2 primeiros do novo ano) no Disney+, às 20 horas, do dia 10 de maio. Episódios depois serão liberados de forma semanal.