Hello, darlings! Cruella chegou e está aqui para deixar o mundo do cinema um pouco mais maluco, mas sem dúvidas muito mais charmoso. E a vencedora do Oscar, a atriz Emma Stone radicalmente assume o papel da vilã Cruella De Vill em mais uma empreitada da Disney em transformar seus personagens animados em versões em live-action (já é a segunda vez!), e com Cruella (2021), o estúdio consegue acertar e muito.
Claro, Cruella não é um filme preto no branco – como os figurinos deslumbrantes que Jenny Beavan, vencedora do Oscar em duas oportunidades, cria para o longa, um dos maiores destaques aqui -, e sim, uma produção que trabalha com uma certa tonalidade mais cinzenta em que somos introduzidos para a história da jovem Estella (Stone, vivendo seu momento) e o começo da sua transformação na poderosa, e má, e um pouquinho maluca estilista Cruella De Vil que assombra crianças, cachorros, e muito mais, há diversas gerações.
E pelas mãos do diretor Craig Gillespie (do ótimo Eu, Tonya (2017) e que tem algumas semelhanças com o longa da Disney), Cruella faz um filme de origem completamente carismático em sua proposta de contar a história dessa personagem, e mostrar que existe mais sobre ela do que apenas uma fascinação por casacos de peles e por (101) cachorros.
Sinto que Gillespie e o time de produção do longa conseguem fazer com que Cruella seja um filme único em sua própria maneira ao tentarem mostrar esse lado mais humano da personagem, da sua obsessão por dálmatas, e que tenta se desvincular o máximo que pode da versão em live-action de 101 Dálmatas (1996), onde Glenn Close alucinadamente também interpretou também a vilã, e principalmente da animação que serviu de base para os dois projetos sobre essa personagem.
Mas não se enganem o filme não “passa pano” para as atitudes de Estella (nenhum cachorro sofreu nesse filme), e que fazem parte de um grande contexto. Cruella tem diversas referências, e acenos muito espirituosos, e sutis, quase com um latido, eu diria, para a animação de 1961, onde temos citações de personagens, até mesmo de frases marcantes. Gillespie entrega um filme que sabe dosar bem o drama, com algumas pirações, coisa que claro, faz de Cruella uma produção recheada de momentos divertidos, mesclados com uma formidável trilha sonora que se serve como uma luva para diversas cenas e passagens do longa, onde temos os atores certos para cada personagem que é apresentado nessa Londres dos anos 70.
O Cruella de Gillespie é banhado por uma forte estética visual, e uma incrível ambientação de uma Londres completamente urbana e em plena mudança, onde o diretor consegue nos transportar para essa época tão marcante para cenário da moda, em que vemos também que no filme, a moda em si também é fundamental para o desenrolar da história e do destino dos personagens. E para isso, como se incluísse a moda como um novo personagem, Gillespie tem nele um de seus maiores aliados, os figurinos caprichados, um ainda mais arrebatador do que o outro, que parecem que contam a história do filme, e da personagem, através deles.
Assim, Cruella entrega um trabalho de produção excelente, e com uma gigante preocupação com cada detalhe, cada vestimenta, e que é inegável não sair vidrado com cada um dos visuais, tanto da nossa protagonista Estella, quanto da implacável Baronesa (Emma Thompson que parece aproveitar a oportunidade e entregar uma personagem deliciosamente má ) e claro, deles, os capangas Horácio (Paul Walter Hauser) e Jaspar (Joel Fry) que também entram na jogada.
Cruella apresenta sua trama, desde do começo, darlings, com a infância da protagonista, com uma Estella jovem (Tipper Seifert-Cleveland) e já com o cabelo metade preto e metade branco, até anos mais tarde com Estella adulta (Stone, adorável em um peruca ruiva), uma aspirante à estilista que em meio a pequenos e outros truques consegue uma vaga como faxineira em uma exclusiva loja de departamentos. O longa acompanha o embate da personagem com a lendária estilista Baronesa que comanda seu ateliê com punho de ferro, mas vê na jovem um talento a ser descoberto.
Sinto que o texto de Cruella, escrito por Dana Fox (uma figurinha carimbada em Hollywood quando se trata de comédias românticas) e Tony McNamara (que trabalhou em A Favorita com Emma Stone) faz o espectador navegar pelos diversos tipos de narrativas, de momentos e gêneros diferentes que o longa se apresenta. Por exemplo, Cruella é parte filme de assalto (onde o foco é roubar a Baronesa, prestem atenção aqui), é parte O Diabo Veste Prada (onde vemos Estella fazer de tudo para agradar a nova chefe), e claro, mistura tudo que também ao mostrar uma história de amadurecimento para personagem, onde vemos como a jovem Cruella usa a moda para causar uma disruptura no status quo do cenário fashion de Londres, onde o choque do antigo e novo é cada vez mais sentido.
E particularmente acho que em parte (mais sobre isso abaixo) tudo funciona.
Todas as cenas onde Cruella invade algum dos eventos da Baronesa (detalhe vemos Estella disfarçada e assumindo a persona de Cruella, ou seria ela se libertando das amarras da sociedade?) são particularmente os pontos altos do filme. Desde da chegada da personagem no Baile em Preto e Branco com um vestido vermelho, passando pelo Vestido gigantesco que cobre totalmente o carro que a Baronesa está, até mesmo a Operação de foto com o Vestido feito de lixo são momentos tão amalucados e um pouco improváveis de terem dado certo, mas que ditam completamente o tom do filme e o que os roteiristas quiseram passar sobre a mente da personagem.
E não só dela, os personagens dos atores Joel Fry, Paul Walter Hauser (hilário, numa nova parceira com o diretor depois de Eu, Tonya) e Kirby Howell-Baptiste também tem seus momentos e efetivamente estão ali para ajudar a contar a história, e não para ficarem só por orbitar a protagonista, sem nenhuma função. Sinto também que todo esse excesso de trama, e de mesclar tudo isso, acaba por deixar Cruella com demasiadas longas 2h15 minutos, onde muita, mas muita coisa acontece ao longo do filme. E convenhamos que por mais que divertidas que sejam, algumas passagens realmente estão ali apenas para servirem de artifícios para alongar a história e para esperamos que certos eventos chaves acontecem ao longo do filme, e que para algumas revelações que são apresentadas sobre alguns dos personagens pintem em tela, mesmo que para quem assiste poderá ser de longe matada rapidamente. Mas ao mesmo tempo esse mundo opulento, grandioso e pirado que Gillespie nos apresenta é completamente viciante de se estar e acompanhar. Juntas, Stone e Thompson entregam incríveis atuações e ver essas duas talentosas atrizes se completarem em cena como bota e jeans num look cowboy, faz de Cruella um trabalho muito muito interessante de se assistir e vale totalmente o ingresso, ou o view no Disney+.
Fica claro que com esse live-action que em Cruella é uma das poucas vezes que Hollywood conseguiu mostrar que sim é possível brincar e ajustar algumas coisas ali e ali numa personagem que é tão conhecida e que realmente entrou no imaginário da cultura pop. E Stone entrega tudo e muito mais e deverá ser a nova queridinha do film twitter durante um bom tempo. Chega para lá Arlequina.
Com um humor um pouco mais ácido (ou talvez só mais britânico?) e diríamos até mais sombrio do que o tradicional para uma produção da Disney, Cruella realmente entrega uma boa e interessante surpresa. Sem sombra de dúvidas. Com Stone no papel, é como se o sapato servisse perfeitamente… Não, pera esse é outro filme do estúdio…. Vamos de novo… Com Stone no papel, Cruella faz um filme para se assistir e se deliciar com as peripécias da atriz em tela. Ela está sim fabulosa, darlings. E quem diria que uma história de origem seria tão cativante e estilosa? Claramente Bob Chapek que parece ter o tal “instinto matador” que a personagem de Thompson cita quando se trata da guerra dos streaming ao colocar o longa no Disney+ com Premier Access juntamente com um lançamento nos cinemas.
Cruella chega nos cinemas que estiverem abertos e no Disney+ com Premier Access com uma taxa adicional.
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