domingo, 22 dezembro, 2024
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Cherry | Crítica: Caos visual e narrativo com um ótimo Tom Holland

A trajetória de Cherry (2021) é uma dessas bem curiosas, afinal, o projeto é o primeiro filme dos irmãos Russo, Anthony e Joe, depois que eles concluíram a Saga do Infinito para a Marvel Studios lá em 2019 e fizeram dois dos filmes mais lucrativos de Hollywood dos últimos tempos que juntos somam quase 5 bilhões de dólares ao redor do mundo em bilheteria. 

E para onde ir depois desse feito? De volta para as origens certamente. Assim, depois do grandioso, e épico, Vingadores: Ultimato (2019) ter feito mais de 2 bilhões de dólares por ai, numa época que cinema era uma grande coisa e que não tínhamos um mundo em uma pandemia, a dupla chega com uma bagagem impressionante, uma agenda disputada, e com muito crédito em Hollywood para gastar. Anthony e Joe parecem que voltam a fazer um cinema mais cru assim por dizer, fazem coisas aqui apenas por terem o poder de fazer (o dinheiro!), e com Cherry, os diretores parecem também que colocaram tudo que sabem, e já viram por aí, desde de técnicas de filmagens, até de formas de contar uma história e de estruturas narrativas, misturados nesse projeto.

E com isso, o que temos aqui é que Cherry entrega um filme para lá de estranho de assistir. É como se tivéssemos várias bolas de sorvete, uma em cima da outra, com diversos sabores, onde algumas combinam outras não, e que tem lá em seu topo uma grande e vermelha cereja, que aqui representa a atuação de seu protagonista, o ocupado, requisitado e o novo queridinho de Hollywood, o ator Tom Holland.

Cherry Movie Review
Cherry – Crítica
Foto: AppleTV+

E é por conta do trabalho dos diretores com Holland em outros projetos, aqui eles repetem a parceria novamente, e talvez seja o grande motivo que Cherry dá mais ou menos certo. No seu primeiro dos seus três filmes em 2021, Holland realmente se mostra ser um ator extremamente mais talentoso do que já nos apresentou até agora, e com Cherry fica claro que ele está pronto para abocanhar outros novos papéis, aqueles fora do Universo da Marvel, e do personagem do Homem-Aranha, aqueles mais perto da realidade e com tramas adultas.

E assim, em Cherry, Holland é sim, a cereja do bolo, o destaque principal, onde graças ao seu empenho e sua atuação fora de tudo que já vimos do ator no últimos tempos, consegue fazer com que o filme ganhe um DNA próprio e realmente entregue alguma coisa diferente, afinal, vendo o longa de uma forma geral, Cherry deixa um pouco a desejar. 

Ao começar que Cherry faz um filme extremamente longo ao querer contar uma história em zig-zag sobre um cara que vai para o exército depois de uma desilusão amorosa, e ao voltar de uma missão, fica viciado em drogas, e desenvolve um violento estresse pós traumático que leva para um mundo do crimes e roubos. E é bem isso que Cherry, e o roteiro da dupla Jessica Goldberg e Angela Russo-Otstot (adaptado do livro escrito por Nico Walker que inspirou a história) entrega, uma história de caos tanto na vida do nosso protagonista, como na forma que os irmãos Russos fazem para contar essa história, e assim por dizer, de fazerem o filme em si. A estrutura narrativa quebradiça e fragmentada, e os inúmeros flashbacks dentro de flashbacks que o longa cria, atrapalham muito o ritmo do filme e dificulta e muito como assistirmos e processarmos a história desse rapaz.

Cherry é dividido por capítulos (são 5 mais um prólogo e um epílogo) e quando chegou no capítulo final eu já pouco lembrava do que tinha acontecido nos capítulos iniciais, e precisei voltar algumas vezes no link que eu recebi para anotar algumas coisas. E isso, para mim, prejudicou a experiência de se assistir o filme.

Veja bem, não é que Cherry faça um filme ruim, longe disso, apenas que entrega um longa que parece um amontoado de ideias isoladas que são colocadas juntas, com poucas conexões entre si, para contar essa explosiva história, mesmo que no final vemos que essas partes quase nunca são desenvolvidas profundamente. E como temos quase 2h30 de filme, essas partes, como falamos, são várias e todas elas ajudam a contar como e por qual motivo o personagem foi parar onde ele foi parar: viciado em drogas, envolvido com traficantes, e com assaltos à mão armada em bancos.

E os diretores querem usar de tudo para contar isso, afinal, eles tem tempo certo? Em Cherry, temos a quebra de quarta parede, temos “pegadinha” com o destino de personagens, e o filme utiliza quase todos os recursos que o film twitter parece ter amado em diversas produções nos últimos tempos.

Cherry é um caótico conto sobre um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que vê uma chance para tentar sair desse caos que ele entra. Parte da jornada é fim, certo? É uma história de uma vida que Os Russos contam em cansativas horas e acho que Cherry seria melhor aproveitado se fosse uma minissérie, por exemplo. Mas aqui não é o caso, então temos que lidar com essa escolha dos produtores… e realmente tem coisas muito boas que podemos tirar do filme.

Pessoalmente, o maior problema com o filme é que Cherry se sustenta quase que unicamente pelo talento de Holland que consegue, ao longo dos diversos capítulos, variar e entregar um boa atuação que vai desde um garoto tímido, até um soldado do exército, depois para um viciado em drogas, e depois um ladrão de bancos.  Holland e Cherry vão estar associados sempre, e para mim é o grande papel do ator que vai definir sua carreira mais adulta nos próximos anos.

Claro, Holland sempre vai fazer esses filmes blockbuster que ele faz, mas chega um momento que todos fazem essa transição para os filmes mais adultos e sem dúvida Holland está num bom caminho.  Juntamente com sua colega de Homem-Aranha, Zendaya que fez com Malcolm & Marie, eu sinto que Cherry é o mesmo tipo de projeto que a atriz protagonizou.

Cherry – Crítica
Foto: AppleTV+

Holland não está sozinho, temos também a presença da atriz Ciara Bravo, como Emily a namorada do protagonista que espera o rapaz retornar da guerra para finalmente eles terem seu felizes para sempre até que o vício de heroína, e as pressões que vem com ele, acabam por servir como se fosse a terceira pessoa no relacionamento dos pombinhos. Bravo realmente consegue nivelar com Holland nos momentos mais dramáticos e realmente me surpreendeu em diversas partes. Outro que realmente se destaca é o ator Jack Reynor que realmente tem um dedo para escolher personagens duvidosos, e em Cherry dá vida para um traficante chamado Pils & Coke que realmente tem boas passagens.

E justamente nesse momento do filme, que esses personagens se juntam na trama, lá pelos capítulos 4 e 5 (Home e Dope Life) que eu sinto que Cherry realmente engrena e onde os Russo deveriam ter focado mais: a parte que vemos a vida após a guerra, as consequências que a missão afetaram a vida do nosso protagonista, e todo o drama das drogas e os planejamentos para os assaltos aos bancos, mas nisso já tivemos quase 1h de pouca de filme.

Entendem quando eu falo sobre Cherry ser longo? O filme só ganha seu momento após a sua metade, e só chega na parte boa do tal sorvete, depois de muita história. Toda a forma como vemos o personagem lidar com o vício, e atrair Emily para o mundo das drogas, e começar a bolar os assaltos em bancos para bancar a compra de drogas são os momentos que tanto Bravo e Holland entregam boas passagens , mesmo que demore muito para o filme chegar nelas, e realmente mostrar para que veio, e efetivamente engrenar.

No final, Cherry faz uma longa jornada que nos faz entrar de cabeça nessa história onde somos puxados para dentro dela e que me fez ficar pensando no longa durante semanas. Cherry é um exercício de sentar, assistir, e se deixar absorver por uma história e acaba por seja mais um filme sobre atuação do que efetivamente sobre contar uma boa história. E nisso, Holland se garante, e como falamos, Cherry se segura completamente no talento de Holland, mas será que só isso é capaz de fazer um bom filme? 

Avaliação: 2.5 de 5.

Cherry chega na AppleTV+ em 12 de março.


Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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