O atoe e comediante Billy Eichner tem um humor muito peculiar, afiado, mas peculiar. E acho que isso é o que particularmente mais me atraiu e que faz Mais Que Amigos (Bros, 2022) funcionar tanto como filme de nicho, como uma comédia romântica. O longa é uma celebração para o gênero que tem perdido espaço nos cinemas e destinado para o streaming, só que aqui por ventura temos dois caras como os protagonistas. E Mais Que Amigos é muito mais do que apenas uma comédia romântica gay, é uma Senhora Comédia Romântica que engloba o gênero como um todo.
Afinal, o texto de Eichner e Nicholas Stoller (que dirige o longa) segue toda a cartilha de filmes clássicos do gênero, aqueles com Meg Ryan, com Julia Roberts, e todas outras mulheres que protagonizaram suas histórias de amor ao longo dos últimos anos. E com Mais Que Amigos, Eichner consegue não só fazer a melhor comédia romântica do ano, como uma das melhores dos últimos anos. Quem liga se temos dois caras se pegando em tela, por vários minutos, e em várias cenas. Mais Que Amigos é uma celebração para o gênero da rom-com. Uma afiada, divertida e apaixonante celebração para as comédias românticas que há anos vem por nos fazer rir, chorar, e se emocionar.
Com um elenco e produção majoritariamente LGBT, Mais Que Amigos mostra um sentimento de normalização para contarmos essa história, nossa história, como outros muitos personagens puderam contar. E deixo claro, não é adequar uma história LGBT nos moldes heteronormativos, e sim contar uma em que um relacionamento LGBT pode ter as mesmas dificuldades que um heterossexual, afinal, somos todos humanos. “Ah, mas não é a mesma coisa…” claro que não, afinal cada um tem suas peculiaridades únicas e as mostradas aqui é que dão um charme e um tom próprio para o longa.
E com Mais Que Amigos é o clássico boy encontra….boy com personalidades, visões de mundo completamente diferentes… e aqui eles começam um relacionamento, veem uma dificuldade surgir, se separam, e lá no final percebem que foram feitos um para outro. E Bobby (Eicher) e Aaron (Luke Macfarlane) foram feitos um para outro, igual Harry e Sally lá nos anos 80.
E Mais Que Amigos coloca toda a bagagem que é ser, e tentar um relacionamento no mundo LGBT de uma forma hilária de assistir. Assim como o mundo dos encontros heterossexuais tem suas peculiaridades, Mais Que Amigos apresenta as peculiaridades dos encontros do mundo gay. E isso é feito com uma sagacidade gigante e apenas deixa o longa, a cada passagem, melhor. São cenas feitas para rolar uma conexão, seja com os personagens na balada com os diversos tipos de pessoas que você encontra no cenário LGBT (A piada de Dumbledore com esteróides me quebrou demais, relaxa essa cena tem no trailer), com a facilidade atual de encontros, seja por diversos aplicativos de encontro disponíveis, ou pela não facilidade que acontece no mundo LGBT com diversas panelinhas e tudo mais, e até mesmo outras questões mais complexidades sobre relacionamentos monogâmicos, poliamorosos, abertos e tudo mais. Enfim, Mais Amigos passa por, e tem, tudo isso.
Mais Que Amigos vai a fundo nesses temas, que estão apresentados em tela quando o hiperativo, militante, e rabugento podcaster Booby conhece o caladão advogado sarado Aaron. Das trocas de poucas palavras na balada, até as trocas de mensagens, e encontros (que não encontros!), a química entre os dois vai por crescer até que eles começam a perceber a possibilidade de “será que existem espaço para essa pessoa em minha vida?”.
Das viagens, das provocações, do esperado encontro amoroso dos dois, e dos conflitos que essas duas personalidades opostas criam, tudo é uma estrutura narrativa feita para torcermos para eles. Mesmo que às vezes eles soam irritantes, como bons protagonistas de comédias românticas são. E Eicher e Macfarlane estão incríveis juntos e garantem bons momentos.
E claro, no meio disso tudo temos participações hilárias em diversas cenas de diversos atores e atrizes conhecidos do grande público LGBT e com uma avalanche de piadas sobre e com a cultura pop atual. Alguns são apenas participações especiais breves (sem spoilers), outras fazem parte da trama como a atriz Debra Messing da série Will & Grace, por exemplo.
E até mesmo o elenco secundário que trabalha no Museu em que o personagem de Eichner planeja sua exibição formado por Jim Rash (da série Community), Dot-Marie Jones (da série Glee), Miss Lawrence, Ts Madison e muito mais ajuda a contar mais sobre o mundinho LGBT. E claro, o filme não deixa certas coisas passarem batidos e faz uma provocação quase satírica de diversos núcleos da comunidade e algumas militâncias. Mas tudo é feito de uma forma bacana de assistir. É como se tivéssemos dentro de um episódio de Untucker do reality RuPaul’s Drag Race.
E como falamos, Bobby e Aaron vivem diversas situações que vimos em diversos outros filmes, algumas cafonas, algumas embaraçosas, mas aqui é contada pelo prisma de dois homens e para o tipo de filme de Mais Que Amigos entrega está tudo bem, já vimos coisas piores em diversos filmes água com açúcar que a Netflix lança toda a semana praticamente. Assim, Mais Que Amigos acaba por ser tão divertido, é espirituoso e vem com um combo de piadas para lá de boas e que vão fazer o público cair na gargalhada. Eu particularmente ri demais. E no final, é isso que importa.
Mais Que Amigos chega em 06 de outubro nos cinemas nacionais.