O maior acerto de Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa (Alexander and the Terrible, Horrible, No Good, Very Bad Road Trip, 2025) é realmente saber contar essa história de uma forma nova e extremamente bacana de se assistir.
E isso se dá pela química entre o elenco que compõem os membros da família Garcia que passam por poucas e boas durante uma viagem dos EUA para o México. É uma nova roupagem, e muito bem-vinda, em uma agradável, adorável e encantadora releitura dessa história que já foi contada em filme lá nos anos 2000, onde ambas são baseadas no livro best-seller Alexandre e o Dia Terrível, Horrível, Espantoso e Horroroso.
Só que aqui na versão de 2025, a ideia é acompanhar uma família latina e o jovem Alexander (Thom Nemer, carismático) que acredita ser o garotinho mais azarado do mundo. E em partes ele está certo, afinal, quando os Garcia embarcam no motor-home cedido pela revista em que Val (Eva Longoria, ótima depois de alguns projetos fracos) trabalha, o garoto, sua irmã Mia (Paulina Chávez), pai Frank (Jesse Garcia que repete o trabalho com Longoria depois do longa sobre o Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História) e a avó Lidia (Rose Portillo) vão viver uma aventura e tanto ao longo dos dias seguintes.
Juntamente com o abuelo Gil (Cheech Marin) que também vai dar as caras na jornada, de uma forma bastante engraçada de se acompanhar. E se Nemer está um poço de carisma no filme e realmente se mostra um ator promissor, o texto da dupla Matt Lopez e Judith Viorst consegue usar o talento do astro mirim e acertar no tom para contar essa história da forma mais despretensiosa possível.
Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa é o que você espera de um filme de streaming e que entrega alguma coisa mais. Afinal, ao colocar essa família nessa viagem, a relação entre eles é colocada no microscópio e isso dá a todos a chance de terem seu lugar ao sol. De Longoria que realmente retorna com um timing cômico preciso e divertido como essa mãe trabalhadora que vê a pressão de trabalhar fora de casa cada vez mais quando percebe que os filhos estão crescendo, para Garcia que entrega um pai preocupado e alguém que quer manter a família unida para Chávez que tem uma trama adolescente considenzente com um adolescente atual (no contexto americano e num recorte demográfico bem específico).
Os dois tem cenas juntas muito interessantes enquanto vemos, como um casal, discutirem suas relações, ao mesmo tempo que também precisam vestirem o chapéu de pais durante essa viagem. E cada um desses personagens tem um mini arco narrativo que é desenvolvido ao longo da viagem. Seja de Val sobre receber um pedido para o baile, ou até mesmo sobre como os avós, um pai de Val e a outra a mãe de Frank que não se dão bem e tudo mais.
E todos os atores acertam no humor mais físico aqui em Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa. Afinal, quando partem em viagem rumo ao México eles não esperam que seriam atingidos por um gambá, pelo motorhome dando uma pifada, para eles atingindo uma estátua gigante e ainda afundando o trailer que pegaram emprestado no meio do nada.
Ao mesmo tempo que o texto garante que Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa tenha cenas divertidas, surreais e que brincam com o fato que Alexander tem uma má sorte, mas também mostram um pouco de uma certa dramaticidade para essa história com essa família de 2ª e 3ª geração americana em contato com suas raízes latinas.
É interessante o uso de personagens mais secundários, interpretados por nomes conhecidos, para dar para os Garcia essa “aula” em cultura mexicana seja com o personagem do ator Cristo Fernández (do sucesso Ted Lasso) como um fazendeiro perto da fronteira do México que ajuda a família ou até mesmo Harvey Guillén (vindo de Acompanhante Perfeita lançado no começo do ano) como um picareta que trabalha numa loja de posto de ervas e “brujarias” que e ajuda a família a desvendar os mistérios de uma estátua misteriosa que está há gerações com os Garcias.
E o diretor Marvin Lemus consegue tirar o melhor desses atores já que em boa parte do filme ou temos os Garcia em lugares bem fechados, seja no trailer, ou em cômodos do trailer ou também eles no meio do nada, só com deserto, estrada, e, às vezes, um riacho (não, na verdade é um rio mesmo).
Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa faz um bom filme para se ver no streaming, sem dúvidas, é extremamente superior do que diversas outras opções disponíveis nos rivais (alguns com orçamentos muito maiores e com nomes mais conhecidos). É na história de família, tem um coming of age, nas piadas divertidas e no sentimento acolhedor que o longa passa na medida que passamos um tempo junto com esses personagens.
No final, Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa faz um filme completamente oposto do que seu título diz e acerta em divertir, sem querer forçar ou hitar nos charts.
Alexandre e a Viagem Terrível, Horrível, Espantosa e Horrorosa está disponível no Disney+.
