A franquia After é uma franquia curiosa. Pegou uma ideia de uma série de livros que por si próprios já tiveram sua história esticada para uma quantidade de livros maior do que deveria ter, e aí fizeram o quê? Aplicaram isso e transformaram a mesma ideia para os cinemas, uma mídia completamente diferente, onde agora com After – Depois da Promessa (After Ever Happy, 2022), a franquia After chega em seu quarto filme.
Prometido como o último da franquia, o longa garante com alguns truques que a história do casal Tessa (Josephine Langford) e Hardin (Hero Fiennes Tiffin) continue. O primeiro filme lançado em 2019 foi o que estabeleceu a relação dos dois e deu um norte para a franquia de maneira geral, e realmente colocou a dupla de atores no mapa, trouxe a legião de fãs dos livros para os cinemas, ou pelo menos, era o que deveria ter acontecido, afinal em termos de bilheteria os filmes nunca performaram muito bem. O teto são os quase 70 milhões de dólares em todo o mundo que o primeiro filme fez, nunca foi batido, onde os filmes posteriores só viram a bilheteria decair filme após filme.
Foto: Voltage Pictures/Diamond Filmes
Mas também convenhamos, After nunca pareceu decolar muito fora da própria bolha virtual. Talvez, pelo fato que ao longo dos quatros filmes, a trama sempre entregou a mesma história, contada apenas de uma outra forma, em outro momento da vida desse casal, e aquele sentimento de estarmos acompanhando um romance de ensino médio visto no primeiro filme, meio que se vai por se perder ao longo dos outros filmes, pelo fato que os personagens até vêem suas vidas serem mudadas, mas esse conflituoso, carnal e explosivo romance nunca vai para frente, nunca evolui, e os personagens também nunca saem disso.
Assim, esse jogo de morde e assopra que é marcado pela franquia. E com a promessa que After – Depois da Promessa seria o capítulo final da jornada de Hessa, a sensação de agridoce quando vemos que isso não é real, faz o filme realmente soar como mais um capítulo mediano na história da franquia. Claro, After – Depois da Promessa é infinitamente melhor que After – Depois da Verdade (2020) e After – Depois do Desencontro (2021), mas aqui nem isso dá para se falar como se fosse uma coisa positiva, afinal, a régua estava lá embaixo. A única justificativa, talvez, seja que com esse filme, o relacionamento dos dois, comece a finalmente mudar um pouco o status quo da dinâmica do casal principal.
E ao incluir os dois protagonistas num ambiente mais adulto e que as ações têm consequências – mesmo que aqui Hardin coloque fogo numa casa depois de descobrir a questão de quem é seu pai no último filme – talvez tenha beneficiado o longa. Enfim, talvez, essa tal cena seja o começo da jornada de reabilitação do personagem. Em After – Depois da Promessa, a história começa literalmente onde o filme anterior terminou, onde começamos como uma recapitulação daquelas que vemos em seriado (e me deixou pensativo do por que essa história não foi adaptada em série logo no começo?), com Tessa e Hardin em um casamento, onde eles continuam a participar com dois bicos gigantes, ele por conta de descobrir o que descobriu, e ela por conta que ele se fechou completamente e não conversa com ela.
O mais engraçado é como as coisas se repetem, e que todo filme temos uma enxurrada de personagens novos que entram na trama sem o menor sentido, e que só servem para orbitar os personagens principais, seja o meio-irmão de Hardin, o jovem Landon (Chance Perdomo), a amiga Nora (Kiana Madeira) ou até mesmo de Kimberly (Arielle Kebbel que substituiu outra atriz) e de Christian Vance (Stephen Moyer que também substituiu outro ator).
Todos eles tem suas histórias intimamente contadas, só se tiverem com os principais do lado e em cena, mas para muitos nem isso é possível. Pelo menos nesse filme Madeira tem mais que apenas duas linhas igual foi no longa anterior. E em After – Depois da Promessa, todos esses personagens estão ali para desviarem do furacão Hessa na medida que o conflito da paternidade de Hardin afeta o rapaz e claro o relacionamento que parecia ir bem.
Foto: Voltage Pictures/Diamond Filmes
O mais engraçado do texto de After são as justificativas para as ações dos personagens, como eles fazem para evitar as discussões de casal, onde tudo sempre vai para o caminho mais estapafúrdio possível. É dirigir um carro pelo interior de Londres, andar descalça pelas ruas no inverno, ir numa festa punk rock, se mudar para Nova York para um novo começo, jogar na cara do parceiro que você não pode engravidar e tudo mais.
O casal sempre faz uma grande bola de neve em diversos mini arcos narrativos, entre uma cena mais picante aqui e ali, e que aqui mais uma vez o filme repete essa dinâmica. Assim, na medida que o casal se separa pela 10a vez (alguma fã deve ter isso certinho), Tessa começa um novo emprego e Hardin vai para um grupo de apoio para alcoólatras e dá um jeito no manuscrito do livro que ele tem escrito sobre o relacionamento dos dois.
Eu sinto que Langford e Tiffin se acostumaram a interpretar esses personagens e realmente não tem mais para onde irem com eles em termos de atuação. Em termos técnicos, por mais internacional que After – Depois da Promessa possa soar por conta de suas locações, o valor de produção do longa ainda é considerado baixo para um filme que tem um lançamento nos cinemas. É tudo muito simples, muito fraco, e sem um brilho necessário.
No final, acho que a franquia After poderia ter menos filmes ou ser uma série de TV numa plataforma de streaming. Seria ainda a melhor opção para a franquia que meio que parecia que iria concluir sua jornada já nessa história, mas pelo que foi mostrado nas cenas finais, apenas fica comprovado que ainda tem sim, mais coisa para contar, mesmo que essa história já foi mais do que esticada e requentada. Por que pelo andar a carruagem, ainda existem muita coisas para acontecer *depois* de After – Depois da Promessa.
After – Depois da Promessa chega em 25 de agosto nos cinemas.
