Acrimônia, substantivo feminino.
- Aquela que tem raiva, é áspera, mal-humorada e revela sentimento de ódio.
Antes de ser uma aula de português, Acrimônia (Acrimony, 2018) talvez seja um bom jeito de desperdiçar uma atriz habilidosa em um papel canastrão em um filme com uma trama completamente sem pé nem cabeça.
Acrimônia chega a ser em várias partes exageradamente delicioso e até te prende do começo ao final, graças a uma boa montagem e edição onde o expectador precisa saber o que vai acontecer, mas no final você sabe com todas as suas forças que aquilo tudo é bem ruim e preguiçoso. O filme acaba por ser aquela famosa definição do termo guilty pleasure, onde em outra aula de português, podemos dizer que é aquele tipo de produção onde você até se diverte, mas no fundo, lá no fundo sabe que não é lá essas coisas.
Para os fãs de Revenge (2011-2015), Acrimônia é uma mistura do seriado com o filme Obsessiva (2009) estrelado pela cantora Beyoncé. A diferença aqui que Taraji P. Henson tem, em alguns poucos momentos, lampejos de uma boa atuação e consegue se salvar em uma cena e outra. A atriz tem monólogos afiados e envolventes onde realmente se destaca por conseguir passar para quem assiste todo o sentimento de ódio, desprezo e uma amargura gigante de sua personagem.
Sempre acompanhada de um cigarro, as partes onde a protagonista conversa com uma psicóloga ou quando ela surta com sua família por conta de seu marido acabam por serem intensas, emotivas e mostram um trabalho de preparação da atriz muito grande onde conseguimos sentir o que Henson quer passar com sua personagem.
Na trama, Melinda (Henson) é uma esposa que faz tudo pelo marido desde de pagar por um carro apenas por comodismo dele até mesmo trabalhar em 2 empregos enquanto ele foca em seu projeto paralelo, a criação de uma bateria inovadora. Até que depois de mais de 15 anos eles se separam e ela entra numa espiral de paranoia e loucura quando descobre que além dele ter ficado rico por vender seu projeto, também está noivo de uma mulher com que ele já a traiu em outra oportunidade.
Narrado em flashbacks que contam a trajetória do casal, Acrimônia parece que quer aplicar a máxima de que existe uma verdade para cada um, onde cada personagem parece ter uma visão diferente dos acontecimentos. Ao mesmo tempo que a narrativa nos mostra no passado como Melinda (interpretada por Ajiona Alexus da série 13 Reasons Why) conheceu e sofreu abusos da parte do marido também vemos no presente quão insano é seu sentimento de vingança para cima dele.
Então, o filme acaba por sempre flertar com esse tipo de ambiguidade e deixa na mente de quem assiste a dúvida, será que Robert Gayle (Lyriq Bent) é mesmo culpado ou isso tudo não foi floreado e exagerado por Melinda que está com o ego ferido depois de tantos anos?
O roteiro escrito por Tyler Perry (que dirige o longa) também acaba por ser muito irregular pois gasta uma parte de seu tempo em tentar casar todas as informações da vida dos dois para quando chegamos na linha do tempo atual temos pouco tempo de ver como Melinda reage com tudo aquilo.
Afinal, num filme de vingança o que menos temos aqui é a protagonista infernizando a vida do novo casal. Temos o clássico de vigiar as redes sociais ou fazer tocaia na frente da casa da pessoa mas nada que faça o filme se deixar levar pela situação e abraçar esse lado mais galhofa.
Mesmo que Acrimônia tente ser um filme um pouco mais sério onde quer ser um retrato psicológico sobre escolhas, relacionamentos e mostrar personagens que acreditam em seus sonhos, apenas temos um roteiro com uma falta de profundidade em desenvolver tais assuntos.E no final, o longa falha em não focar 100% seu lado trash e tentar se divertir mais com si mesmo.
Acrimônia acaba também por pecar em várias partes com uma história que fica bastante oscilante em quase suas 2 horas de duração.
Assim, Acrimônia, substantivo feminino.
- Um desperdício do bom talento de Taraji P. Henson.
Acrimônia tem previsão de estreia nos cinemas para o dia 9 de agosto.