Esse é, com certeza, o episódio mais triste de The Handmaid’s Tale. É até difícil aceitar a quantidade de absurdos que eles conseguiram pensar para a série. Por outro lado, foi incrível vermos Offred finalmente saindo da sua zona de conforto e buscando formas de se rebelar. Vamos ver os pontos fortes de The Bridge! Praise be! (Louvado seja!)
ALERTA DE SPOILER: Este artigo contém informações sobre os principais acontecimentos do episódio. Continue a ler por sua conta e risco.
Chegou o momento da cerimônia de entrega do bebê de Janine e, como esperávamos, foi muito emocionante. Dentre as Handmaids que acompanhamos, Janine é uma das mais frágeis e que mais sofreu. Sua psique está totalmente estraçalhada e o fato de ainda conseguir manter-se funcional é notável. Tia Lydia sabe de seu estado mental, mas é sua função colocá-la em outro posto para que possa gerar um novo filho. Eu gostaria de conhecer um pouco sobre o passado da Tia Lydia para entender se ela é uma das que realmente acredita nos preceitos da Gilead ou se apenas os segue por obrigação.
Finamente Offred se movimente e busca outros participantes da Mayday. Uma pena que ela não seja introduzida ao grupo por Emily, seu envolvimento nessa etapa seria muito mais pessoal, devido sua jornada. Alma traz um contraste interessante com sua personalidade forte e ríspida, mas é uma desconhecida, como podemos ter certeza em sua lealdade?
Utilizar o ego de Fred para ser levada de volta à Jezebel é forma certa de manipulá-lo. Mais do que isso, fazer com que ele pensasse ter sido ideia dele foi muito importante, pois diminui sua dominância, facilitando assim formas futuras de controle. E, de brinde, ainda consegue causar um pouco de ciúmes em Nick – nada como uma mulher com uma missão! Uma pena que seu plano não dá certo por causa de um homem excitado.
Eu sei que Serena Joy não é das melhores pessoas, principalmente considerando seu histórico como fundadora intelectual da Gilead, mas a pessoa que vemos hoje é digna de pena. Além de ter seus ideais distorcidos pelas mãos de homens inescrupulosos e ser relegada a um papel inexistente, precisa ignorar os pecados que sabe que o marido comete. Como é possível que ele tenha repetido o mesmo padrão da Offred anterior e nem tenha tomado o cuidado de pegar um xale que estivesse menos às vistas da esposa?
Ambas as cenas de estupro são muito desconfortáveis. Eu acho que é a primeira vez que foram tão gráficos com a questão de violência sexual. Não é possível dizer se Janine realmente amava o Comandante Putnam ou se era apegada à ideia de liberdade que lhe foi prometida, mas sua violação sexual pelo novo Mestre foi a gota d’água para que perdesse o pouco de sanidade que lhe restava. A situação de Offred consegue ser pior, pois ela ainda precisa fingir que aprecia o ato, tanto para conseguir cumprir com sua missão, como para sobreviver.
Eu não imaginei que voltaríamos a Jezebel tão rapidamente, mas foi uma ótima surpresa, já que tivemos essa cena maravilhosa entre Offred e Moira. Há uma inversão na dinâmica delas, pois agora é Offred quem tenta motivar a amiga a lutar (o oposto do que vimos antes da fuga do Centro Vermelho). Mas o ponto alto é a utilização da frase em latim de Fred “não deixe que os bastardos te oprimam“, subvertendo seu significado para servir de mote para a causa revolucionária. Talvez se ela houvesse chegado um pouco antes, seu discurso teria surtido efeito mais rapidamente, mas é de se entender o motivo da hesitação e subserviência de Moira.
Eu adorei a cena da escada por vários motivos. Fred é o marido infiel chegando tarde em casa, sendo que – teoricamente – nunca deixou seu escritório. Mesmo com seu alto cargo e poder no governo, vejam como seu olhar é mais rebaixado perante a esposa. A posição de Serena Joy no topo da escada, com a luz por traz, demonstra sua onisciência e fragilidade, afinal, ela sabe muito bem onde o marido estava, mas precisa manter seu papel e fingir que acredita em suas palavras vazias. Mesmo com o coração ferido, seu olhar é desafiador e Fred tem muita dificuldade para manter a fachada. O embate entre os dois é silencioso e, ao mesmo tempo, muito poderoso.
A ponte é o local de fuga encontrado por Janine para escapar desse mundo. É muito triste vermos como essa mulher já desistiu e não vê alternativa ao suicídio. O que achei interessante aqui foi no interesse de Tia Lydia pela sobrevivência de Janine. Seu pedido é para que Offred salve a criança, mas se desespera quando a Handmaid se joga no rio. Seria apenas pelo fato de perder uma reprodutora saudável? Também senti algo emanando de Serena Joy, principalmente quando o Comandante defende a ação de Offred tão ferrenhamente. Incrível cinematografia e trilha sonora instrumental. Janine está em coma, será que isso impedirá a Gliead de usar seu corpo para a reprodução?
Após a situação com Janine, era de se esperar que o Comandante Warren Putnam fosse investigado. Eles podem cometer seus pecados, desde que não os tornem públicos. Mas o importante é que, devido às provocações de Naomi Putnam, Serena Joy deixa a cautela de lado e invade o escritório do marido para descobrir o que ele faz ali durante as noites. Há algo de incriminador contra Offred? Pode ser que encontre as revistas e entenda que ela esteja mantendo um caso de vontade própria, porém, devido o histórico do Comandante, é possível que fique do lado da Handmaid.
Louvado seja, vadia!
Esse final foi estupendo: sim ou com certeza? Adorei o momento “espião em missão especial” com a entrega do pacote para Offred, mas quem merece o destaque é Moira. Que bom que a revolucionária que havia dentro dela renasceu. Moira é uma mulher livre e estava definhando dentro de Jezebel após desistir de lutar. Infelizmente sua fuga foi muito rápida e só tivemos pistas do que realmente aconteceu (usar parte do mecanismo da descarga, que inventiva!), adoraria ter acompanhado um pouco mais desse evento. Como ela está livre, só vejo uma forma de retornar à série caso a mostrem fazendo parte da Mayday. Estou ansioso.
Grande parte da trilha nesse episódio é dedicada aos momentos de dor e tristeza, com ênfase na apatia de Moira e na tentativa de suicídio de Janine. A música de encerramento ilustra o momento em que Moira se entrega a seus instintos mais selvagens e parte para a agressão física como forma de lutar pela sua liberdade. É um momento brutal, mas envolvente e sensual.
- Adam Taylor – Staring At A Closed Door
- Heyr Himnasmiður – Hildur Gudnadottir
- The Knife – Wrap Your Arms Around Me
O EVANGELHO DE GILEAD:
- A Mayday é um grupo de resistência secreto que trabalha para destruir a Gilead por dentro. Ninguém sabe quem são seus membros, de modo a proteger a identidade dos colegas em caso de capturas e interrogatórios.
- Integrantes da Mayday agem como espiões, pegando informações de membros importantes da Gilead e auxiliando alvos políticos a escaparem com segurança.
- É possível que membros da Gilead, como Guardiões e Anjos, também façam parte da Mayday, servindo como agentes duplos, dependendo de qual lado possuam mais afinidade.
O EVANGELHO PERDIDO DE GILEAD: (diferenças entre a série e o livro)
- No livro, Janine não é tão rebelde no início de seu treinamento no Centro Vermelho e, portanto, não sofre a punição de perda do olho direito.
- Os arcos de infidelidade do Comandante Warren Putnam e tentativa de suicídio de Janine não existem no livro.
- Fica implícito que a filha de Janine é, na verdade, de seu médico, o que foi arranjado pela própria esposa do Comandante Warren, Naomi Putnam.
- A filha de Janine nasce aparentemente saudável, porém, descobre-se que a criança é uma shredder – triturada (feto com má formação) e morre com poucas semanas de vida.
The Handmaid’s Tale é exibida no Brasil pelo Paramount Channel aos domingos às 21:00, com reprise durante a semana (chequem a programação aqui). Praise be!
Texto originalmente publicado no Apaixonados por Séries.
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