A grandiosa produção da Netflix, o drama The Crown retorna para acompanharmos mais alguns anos na trajetória do reinado da Rainha Elizabeth. Os novos episódios começam na mesma época que a primeira temporada terminou, lá no final da década de 50 e a produção continua a acertar em seus cenários impecáveis, atuações fortes de seus atores e claro por seus bons roteiros.
Mesmo o Reino Unido não estando envolvido em grandes acontecimentos no periodo retrato durante o segundo ano, vemos a Rainha e seu governo pulando de um problema para o outro, com crises envolvendo tanto os membros da família real quanto a própria administração, afinal “Durante quase 10 anos de reinado, já tive 3 primeiros-ministros” afirma a Rainha em um dos episódios. Problemas e mais problemas.
O foco continua em Elizabeth que tem na atuação fantástica de Claire Foy o seu principal destaque mas o drama resolve expandir suas narrativas e deixa os personagens mais coadjuvantes terem oportunidades de se desenvolverem, terem seus momentos em tela e ganham episódios com tramas próprios, como se fossem pequenos spin-offs, o que acaba mudando um pouco o tom da temporada.
Assim, a grande mudança começa com o Duque de Edimburgo, Philip (Matt Smith) que logo no início da temporada recebe mais destaque em um grande arco de três episódios que inicia no pesado 2×01 – Misadventure e terminam no ótimo 2×03 – Lisbon onde vemos a Rainha além de lidar com Crise no Canal de Suez no Egito precisar conciliar seus afazeres com o escândalos sexuais e rumores que podem envolver seu marido que está numa viagem diplomática pelo mundo para ter mais presença na representação da Inglaterra para o mundo.
Como falamos nessa segunda temporada deThe Crown abre-se espaço no Salão de Baile Real para todos os personagens ganharem espaço, conhecemos mais da figura atormentada, teimosa e até infantil de Philip que ganha destaque em pelo menos dois episódios na temporada o ótimo 2×02 – A Company of Men, onde vemos o Principe ter sua história revelada durante uma entrevista e nos entrega um dos melhores momentos do ator Matt Smith na série. E lá no final da temporada durante o arrastado 2×09 – Paterfamilais, onde vemos um pouco da infância do personagem lidando com sua família aliada aos nazistas e sua criação no colégio interno. A série acerta em fazer um ótimo desenvolvimento de personagem mesmo que um pouco desconexo demais com o restante da temporada. Nesse novo ano, o foco é conhecer mais sobre a pessoa por trás da Rainha e como os eventos dramáticos de sua criação influenciaram a pessoa que o Principe agora é e Smith consegue deixar quem assiste torcendo tanto contra quanto a favor do personagem.
A temporada também é toda balanceada em situações e ponto de vistas contrários de diversos personagens e consegue fazer diversos momentos difíceis muito bem trabalhados. A direção acerta na utilização dos flashbacks que são bem colocados e deixamos aqui o destaque para a cena inicial com a discussão entre Elizabeth e Philip que demora três episódios inteiros serem concluída. Esse ano de The Crown tem episódios mais movimentados e cheio de cenas que se completam mesmo sem perder o charme.
Além de Philip, Margaret (Vanessa Kirby) é outra personagem que também ganha força e com dois episódios focados em suas tramas pessoais, o 2×04 – Beryl e o 2×07 – Matrinonium mostram como a irritante princesa tem momentos que nos fazem torcer pela personagem mesmo com seu comportamento rebelde. E tudo isso é possível graças a ótima atuação da atriz que em dupla com Matthew Goode conseguem criar cenas muito bonitas, elegantes e que esbanjam a mais pura e contagiante emoção. Kirby consegue passar tristeza, raiva e felicidade e vemos como sua personagem consegue evoluir de uma figura reclusa após ser proibida de casar com o homem que amava para uma pessoa que acaba se encontrando no mundo.
Mas claro que os roteiros de Peter Morgan chegam nos seus melhores momentos em outros dois episódios, o fantástico 2×05 – Marionettes onde Elizabeth precisa resolver uma crise nacional depois de um discurso numa fábrica de carros e lidar com a imprensa que fica contra a posição mais conservadora do governo. E o destaque da temporada acaba ficando com 2×08 – Dear Mrs. Kennedy onde vemos Elizabeth lidando com outros países como os EUA, representado por John F. Kenney (um ótimo Michael C. Hall) e Jackie Kennedy (uma contida Jodi Balfour) e claro com os países da Africa que querem independência. Assim, esse episódio serve para mostrar a força da Rainha em disputas políticas mesmo que não seja seu papel oficial e deixa Claire Foy brilhar em uma das melhores passagens da série
Essa dupla de episódios mostram o quão foi importante as mudanças que aconteceram no país e que refletem na permanecia da Rainha em seu posto e que mesmo como falamos não sejam grandes eventos mas que são de fácil compreensão e necessitavam de um olhar mais de perto e de claro uma certa sagacidade de perceber as mudanças chegando. E num paralelo com a própria série é isso que Peter Morgan apresenta nessa temporada, uma mudança sutil, tanto nas formato dos episódios, quanto na disposição de tempo de tela dos personagens mas sem mudar as características que fizeram o primeiro ano deThe Crown ser um sucesso: as fortes atuações, os ótimos roteiros e claro a qualidade de tudo.
Claire Foy continua a vender emoção através dos olhos, seja discutindo a relação com marido crianção, garantindo a permanência dos aliados junto à Inglaterra ou enfrentando um jornalista que faz criticas a Monarquia e a própria Rainha. Foy faz novamente uma atuação impecável e isso fica claro no seu rosto e no seu comportamento físico onde você vê as expressões de alegria, ódio e fúria tomando conta da tela. The Crown consegue também deixar Kirby e Smith mostrarem que estão cientes da força de seus papeis e não fazem feio ao dominarem metade da temporada com as tramas individuais de seus personagens. Uma pena que para a próxima temporada os atores não voltam a reprisar seus papéis.
Assim, The Crown então retorna ainda mais encantadora, um pouco mais melodramática e com uma Elizabeth fazendo malabares e apagando fogos por aí mas muito mais segura de si e sua posição. O segundo ano às vezes peca em desenvolver alguns plots de maneira pouco ágil, como o do antigo Rei Edward VIII (Alex Jennings) que volta a dar as caras e da introdução do Principe Charles (Julian Baring) para a série.
Essas sub-histórias acabam por ficar orbitando na trama principal e que nos forçam a acompanha-las para chegarmos no que realmente importa: a trama envolvendo a Rainha. Quando os roteiros trabalham nisso é que fazem de The Crown, uma das melhores coisas na TV, por ser uma produção caprichada e que cativa o expectador a querer saber mais sobre a vida real e se envolver com a história e com os personagens que no fundo são pessoas com sentimentos, alegrias e angustias mas que vivem em palácios, possuem títulos, recebem referências e tem sua vida amplicada como estivessem em um microscópio. Nesse segundo ano, Elizabeth e a série evoluíram o que deixa ela ainda mais interessante de se acompanhar afinal como disse a monarca “A coroa deve prevalecer” e isso que acontece aqui.
https://youtu.be/9XLCbQR_Xk8
As duas temporada de The Crown estão disponíveis na Netflix.
[…] pode ler as críticas dos primeiros anos aqui (1ª temporada), aqui (2ª temporada), e aqui (3ª […]
[…] pode ler as críticas dos primeiros anos aqui (1ª temporada), aqui (2ª temporada), e aqui (3ª […]