A Marvel Studios completou 10 anos de seu universo cinematográfico, a DC Comics levou os filmes de super-heróis para as categorias de atuação no Oscar, e depois de anos e muitos filmes, séries de TV e produções focadas em diversos personagens, parecia que o tema entraria em um natural desgaste. Mas, não se engane, The Boys vem aí como a continuação do sopro de mudança para o gênero, e faz, sem sobra de dúvidas, o melhor seriado sobre super-heróis no ano.
Chocante, gráfica e extremamente adulta, The Boys estreia baseada nas histórias de Darick Roberton e Garth Ennis e tem a mão de Eric Kripke e Seth Rogen em sua produção. São apenas 8 episódios, o que comprova o bom ano que Prime Video vem tendo, ao apostar em qualidade versus quantidade, quando se trata de suas produções originais.
The Boys acerta, e muito, ao mostrar os já tradicionais super-heróis de uma forma satírica, divertida, e extremamente cativante. É o universo dos quadrinhos transportado para a tv de um jeito que o Arrowverse está anos de distância. É tudo que The Umbrella Academy quis fazer e não conseguiu. É o que a união de um bom roteiro, e um bom planejamento faz em seu melhor. The Boys é o primo zueiro e mais velho de Titãs, onde você irá amar o primeiro, se gostou do segundo.
The Boys mostra logo nos seus primeiros episódios (1×01 – The Name of the Game e 1×02 – Cherry) a normalização da figura do super-herói, onde descobrimos que, nesse mundo apresentado, ser um herói é um trabalho como outro qualquer. Assim, acompanhamos um grupo chamado de The Seven, ah lá Liga da Justiça, que são tratados como reais celebridades. Talvez, o maior triunfo de The Boys seja que a série não precisa apresentar para o público nenhum personagem visto nos quadrinhos que seja novo nas telas, os roteiristas pegam todos os arquétipos de heróis conhecidos e os readapta para figuras mais sombrias e realistas, seja o líder Homelander (Antony Starr, ótimo) uma versão loira do Superman, o velocista A-Train (Jessie T. Usher), um Flash que é causa de todos os problemas, The Deep (Chace Crawford, que mostra uma evolução dos seus tempos de Gossip Girl), uma versão mais jovem do Aquaman, e ainda, Queen Maeve (Dominique McElligott) claramente inspirada na Mulher-Maravilha.
Assim, The Boys se mostra, principalmente nos episódios 1×03 – Get Some e 1×05 – Good for the Soul, ser uma série que coloca os super-heróis nesse mundo de uma forma super interessante, num olhar afiado, minucioso e extremamente bem feito e pensado. O texto usa as figuras icônicas na pele desses novos personagens para apresentar uma crítica ferrenha ao mundo do entretenimento cercado por filmes de super-heróis que gera um sistema altamente lucrativo, onde aqui vemos eles agindo como influenciadores digitais, web-celebridades, e que colhem os frutos da fama, sem efetivamente sem se preocupar em “salvar o mundo”.
A trama começa quando as ações de um super afeta a pacata vida de Hughie Campbell (Jack Quaid, muito bom) que é encontrado pelo mercenário Billy Butcher (Karl Urban, sensacional), e os dois formam, no melhor estilo bom/mau policial, um grupo de rebeldes para começar a lutar contra os heróis e a mega corporação por trás deles, a Vought International.
Assim, somos apresentados a dinâmica dos personagens da série, e para o conglomerado liderado pela toda poderosa executiva Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue) que comanda The Seven com punho de ferro, e tem um batalhão de pessoas que precisam ainda cuidar da imagem dos heróis, criar operações de social media com fotos, aparições publicas e patrocinadas, e claro, realizar um serviço sujo aqui e ali.
Num mix de Os Incríveis (2004) com Brightburn – O Filho das Trevas (2019), The Boys faz uma das séries mais únicas, diferentes e ousadas do ano, que se destaca pela excelente escolha da trilha da sonora, e pela qualidade dos efeitos especiais que acabam por serem bastante cinematográficos, mas apresentados para a TV, aqui no caso o streaming.
Ao falar sobre a influência de mega corporações, o poder da percepção do público com os personagens, e ainda tratar sobre questões atuais como movimento Me Too, a polarização política e religiosa, The Boys faz tudo isso com um humor certeiro e completamente ácido e desbocado.
Como afirma um dos personagens logo no começo da temporada “Pessoas precisam de super-heróis”, onde aqui, apenas concordamos, e muito. Precisamos, sim, de mais produções originais, e que não tenham medo de ousar, entregar algo diferente, e que fogem um pouco da fórmula encontrada, mesmo que bastante lucrativa. Já renovada para um segundo ano, para compensar o gancho do ótimo final de temporada, o 1×08 – You Found Me, deixamos você, caro leitor, com duas mensagem aqui: assistam The Boys, se juntem no coro e falem com a gente “F*da-se os Sete!”.
The Boys chega na Amazon Prime Video em 26 de julho.
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