“Assuntos polêmicos” e “colocar o dedo na ferida” sempre foram tratadas como “normal” em produções da HBO, e o caso de Euphoria é um deles e que não foge a regra. A nova série do canal, que chega no próximo domingo, 16, mostra uma visão brutal, com um ar carregado, e completamente desconfortável, sobre adolescência e encontrar seu lugar no mundo.
Euphoria vem como uma piração surreal com direito à chuva de drogas, corpos expostos (muitos deles masculinos!), exploração da sexualidade, e claro, discussões acaloradas sobre festas, cotidiano e crescimento. Euphoria acerta em sua narrativa, ao vermos, logo de cara, nos seus primeiros minutos, a série ter sua história contada pelos comentários ácidos e sarcásticos da jovem Rue, recém saída da reabilitação, e interpretada pela atriz Zendaya que protagoniza a produção, e se garante e muito, numa atuação precisa, cheia de emoção que praticamente deve levar a série nas costas. Euphoria é a típica produção que os votantes do Globo de Ouro amam premiar.
Com uma estética escura, apoiada em tons neon berrantes, com um acabamento que lembram filtros de instagram daqueles mais psicodélicos, Euphoria acaba por ser uma produção que para contar sua história, parece usar do recurso de chocar por chocar, ao exibir sem pudores, o dia-a-dia de um grupo de jovens que acabam por usar drogas como uma fuga da realidade do subúrbio que vivem.
Euphoria nos apresenta, como uma boa série teen, os dilemas e questionamentos desses personagens, só que uma forma completamente cética, pesada e quase viceral. Na trama, temos os típicos arquétipos do ensino médio, com os atletas, nas figuras do jovem rebelde Nate (o ator Jacob Elordi, vindo do sucesso A Barraca do Beijo) e de Chris (Algee Smith), dos desajustados com as personagens de Kat (interpretada por Barbie Ferreira) que quer despertar sua sexualidade, e de Jules (a atriz novata Hunter Schafer) que precisa se encaixar no mundo perfeito do subúrbio como uma personagem trans que só encontra relacionamentos em aplicativos, as princesas como Cassie (Sydney Sweeney, vinda dos sucessos The Handmaid’s Tale e Sharp Objects) e os criminosos, como o personagem de Fezco (Angus Cloud), onde aqui, todos eles estão em sua busca por experiências, momentos marcantes, e parecem enfrentar uma colorida, grande e estridente jornada de auto-conhecimento.
Com uma trilha sonora escolhida a dedo, e com produção musical do cantor Drake, Euphoria parece ser um gigante festival de música, onde muita coisa acontece, todos estão bêbados, mas que ao poucos, a série nos apresenta seus personagens, e as complexas relações que os cercam, mas deixam clara que parece eles querer viver em uma nuvem de cigarros e outras drogras. Um dos trunfos do episódio piloto é que em Euphoria, nem tudo é o que parece ser, onde vemos diversas passagens e cenas sendo contadas, mas diferentes olhares e ponto de vista.
Em Euphoria nem sem sempre o dito é o que é sentido. Assim, Euphoria fala de questões difíceis, como identidade de gênero, vício com pornográfica, e relações não consensuais de uma forma que 13 Reasons Why apenas pincelou e de uma forma muito pobre, onde as produções de Tv americana ficariam de cabelo em pé em apenas sugerir tais assuntos. Aqui, Euphoria se apresenta muito mais com uma nova Skins, misturada com Sex Education do que qualquer outra coisa, onde vemos esse grupo de adolescentes sentirem na pele todas as emoções, amores e delusões.
Em Euphoria, parece que esses jovens querem ao mesmo tempo sentir tudo, do sentimento ápice de euforia, até nada, e tudo ao mesmo tempo. Assim, parece que a série fará episódios completamente sombrios sobre os laços de intimidades que esses jovens parecem viver tão intensamente, que são amplificados por drogas, aplicativos de relacionamentos, festas, e sexo.
Com mais 7 episódios pela frente, fica claro que Euphoria que não é para todo mundo, e faz uma produção difícil, quase insana e que pode ser uma grande alerta para um público jovem sobre o caminho que não seguir. Viewer discretion is advised.
Euphoria chega na HBO e HBO GO no domingo, dia 16 às 23h.
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